"Rotina"
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Literatura, mercado literário brasileiro, carreira do profissional de Letras e educação brasileira nas areas de línguas, escrito por quem ainda está de fora!
Naquela tarde de domingo, não era somente o professor Josh que sofria com os estranhos sintomas. A jovem professora de língua inglesa Agatha, também teve uma péssima noite, na verdade nos últimos tempos ela sofre de pesadelos, febres noturnas e outros distúrbios do sono. Assim como seu colega de trabalho, ela procurou médicos e alguns deles especialistas em tais problemas. Mas o resultado não convenceu a jovem, pois nos exames indicava que estava tudo bem com a saúde da moça.
Não satisfeita, ela que era muito ligada a espiritualidade e coisas do gênero, foi procurar uma cartomante. O “consultório” da vidente ficava em um bairro no subúrbio afastado da cidade. Ela chega de manhã bem cedo a casa. Na mesa da consulente:
__Sente-se minha filha. -diz a senhora enquanto acende o incenso.
__Vejo muita angústia em seus olhos, está preocupada com a sua saúde.
__Como a senhora sabe? –espanta-se a moça enquanto toma acento.
__Bom, conte para mim o baralho em cruz.
__Ok. –ela segue a recomendação.
__Bom, realmente você está passando por uma grande mudança em sua vida.
__Como assim?
__Minha filha é como você fosse uma lagarta e estivesse prestes a romper seu casulo e transformar em uma linda borboleta. Pelo que vejo aqui, você logo-logo vai extravasar sua essência interior e sofrer uma mudança radical na sua vida.
__Mudança Madame, como assim?
__Digamos que vai finalmente se revelar e se descobrir ao mesmo tempo.
__Nossa! E dá para saber como e quando será isso?
__Em breve, muito em breve! E isto tudo está ligado a uma grande missão que você irá cumprir.
__Missão?!
__Exatamente. E vejo também um homem, que vai estar ao seu lado para cumprir essa missão. Em breve ele se revelará também.
__Estou tão confusa, precisava de mais detalhes. Tem essa história da minha saúde também.
__Isso tudo que anda lhe acontecendo é só para lhe preparar para tudo que está por vir. Será grandioso minha querida!
__E que tipo de missão é essa, quem é esse homem?
__Alguém que estará ao seu lado em todo esse processo, vocês se descobrirão juntos, lutarão juntos, se amarão e por fim, talvez, padeçam juntos.
__Ai Madame, agora a senhora está começando a me assustar!
__Não se assuste minha filha, são os desígnios do destino, você não pode mudar jamais o que o universo lhe preparou.
__Você tem algo no seu karma de proporções grandiosas, talvez faça algo que pode mudar o destino da humanidade. Você tem um sangue místico ancestral, um sangue de bruxa ou cigana, não sei ao certo. Só sei que é algo muito forte.
__E como será este encontro, com esse homem?
__ Você já o conhece, ele está muito próximo de você, só resta agora notá-lo.
__Nossa, estou cada vez mais confusa, não faço idéia de quem seja.
__Bom, não se preocupe, as coisa irão acontecer em seu tempo, já está tudo tramado. Quando menos esperar, ele se revela.
__Mas e minha saúde?
__Já disse para não se preocupar, tudo faz parte desse processo de transformação pelo qual está passando, logo tudo se resolve.
__Terá algum tipo de sinal, quando isso acontecer?
__Paciência, já falei que você sentirá dentro de você a hora certa de cada evento.
__Ok, muito obrigada!
__Não tem de quê. Ah e mais uma coisa.
__Sim Madame.
__Acerte a consulta na saída com minha secretária.
Embriaga-te - Charles Baudelaire
Devemos andar sempre bêbados.
Tudo se resume nisto: é a única solução.
Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar.
Mas com quê?
Com vinho, com poesia ou com a virtude, a teu gosto.
Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que se passou, a tudo o que gemeu, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são:
"São horas de te embriagares!"
Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar!
Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto.
Todas as Manhãs, lá ia ela, a jovem Ana brincar junto ao mar. Saía de casa bem cedinho, logo de manhã, molhar os pés na primeira onda. Sentia a água morna tocar seus pés e um turbilhão de coisas lhe passavam pelo corpo. Ali junto a ele, o Mar, ela se sentia segura, sentia-se em casa. Encurvava seu corpo um pouco para trás, abria os braços devagar e se entregava ao vento, sentindo sua brisa leve lhe acariciar o rosto, como num afago ou um beijo de bom dia. O sol, começando a despontar no horizonte, parecia lhe avisar que à noite ele seria lua e lua cheia, para poder iluminar Ana, céu e Mar.
E outra manhã chegava, Ana cantarolava ao sair de casa, pegava uma maçã no cesto, maçã esta colhida na tarde anterior por sua mãe, Martha. A mãe da jovem Ana achava estranho a menina não ter amigos, já que na idade dela as meninas já estão até pensando em namorar. Mas Ana sempre dizia à mãe: _Eu aproveito os carinhos do mundo, dos quatro elementos, de tudo, deitada diante do Mar. Ele sim me entende e é meu amigo, me ensina da vida e me dá os melhores conselhos em suas ondas e seu balanço. A mãe por sua vez não se preocupava: _Isso é meninice de Ana, dizer tais coisas, amiga do Mar, onde já se viu!
Certa vez comentou com o Pai de Ana, Seu Mário, um senhor de idade avançada, meio chucro também. Mas, ele não deu muita atenção e ela por sua vez, deixou para lá também.
E os dias se passavam e Ana continuava sua rotina, afinal estava de férias na escola e então dispunha de todo o tempo do mundo. Levava seus livros favoritos e lia em voz alta diante dele, o Mar. E por mais incrível que pareça quando ela lia histórias alegres, de amor, ele, o Mar, ficava calmo, sereno. Quando as histórias eram tristes e trágicas, ele ficava revolto e turbulento. Sempre que ela estava para ir embora uma onda lhe entregava algo, eram sempre as conchas mais belas e nesta tarde a onda trouxe uma ostra com uma pérola enorme dentro. Pareciam ser presentes do Mar para a menina Ana.
Ela chegou em casa toda contente: _Mãe olha só o que ele me deu. Disse Ana entrando correndo dentro de casa.
_Ele quem menina? Disse a mãe enquanto picava cenouras para o jantar.
_Ele mãe, o Mar. Ana abre a ostra e mostra à mãe.
_Nossa senhora menina! Onde conseguiu isto? Disse tomando a ostra da mão de Ana.
_Já disse mãe, o Mar me deu.
_Deixe de tolices Ana, você já não é uma criancinha para estas fantasias bobas. Vou ficar com essa ostra e mostrar a seu pai. E você vá para o quarto e só saia quando o jantar estiver pronto!
_Mas mãe! Diz Ana chorosa.
_Já para o quarto.
Ana aquela noite chorou muito, nem jantar ela quis. Na manhã seguinte seguiu sua rotina, só que na cozinha seu pai a aguardava.
_Ana, precisamos conversar. Diz Mário com o semblante fechado.
_Filha, essas suas histórias de ser amiga do Mar, você não tem mais idade para isso filha, já é praticamente uma moça, logo vai se casar.
_Eu não vou me casar pai.
_Ana, você precisa crescer. E essa ostra que disse ser presente do Mar, com certeza achou na praia e...
_Ele me deu pai! Diz Ana irritada.
_Não fale nesse tom comigo menina. Está bem, você me forçou a fazer isso, está proibida de sair de casa até voltarem às aulas.
_Pai o senhor não pode! Ana começa a chorar.
_Posso sim, eu sou seu pai e enquanto estiver sob meu teto eu mando em você.
_Então eu vou embora!
_E vai morar com o Mar? Diz Mário rindo.
_Vou, lá tenho o céu azul como telhado e a areia como travesseiro, ele me dará seus peixes como jantar.
_Ana, já para o quarto e só saia de lá quando eu mandar.
Naquela semana, Ana não foi nenhum dia ver o Mar e não se falava neste assunto na casa. Ela se portou muito bem diante dos pais, mas, à noite em silêncio, se debulhava em lágrimas de saudade do seu amor. Na manhã seguinte a boa notícia, Ana poderia ir ver o Mar, mas acompanhada de Martha. Elas saíram logo após o café da manhã. O Mar estava calmo, tranqüilo, como se ainda não tivesse acordado. Quando Ana tocou os pés na água, parecia ter acordado o Mar, ela disse baixinho enquanto molhava os lábios com a água salgada: _Voltei meu amor, sentiu saudades? E o mar balançava, parecia estar em festa. Ana então, deita na areia diante dele e a onda vem lhe cobrir de espuma branca. E para o espanto de Martha o mar entrega na areia um baú, que quando Martha abre descobre estar cheio de jóias, pérolas e moedas de ouro.
_Credo em cruz! Diz Martha espantada ao tocar no tesouro.
_É um presente dele para a senhora e o papai, mamãe! Diz Ana sorrindo.
_Devo estar louca! Diz a mãe pondo a mão na cabeça.
_É um presente mamãe, um presente de noivado, ele quer casar comigo.
_Pare Ana, vou chamar seu pai para ele ver isso.Fique aqui e proteja o baú.
_Está bem mamãe.
Enquanto isso Ana sobe na pedra mais alta da praia: _Estou indo meu amor, ninguém mais nos separará. E se arremessa.
Os pais de Ana chegam na praia e a procuram, ficam desesperados. Levam o baú para casa e voltam para procurar a filha na praia. A mãe de Ana avista algo próximo aos destroços de um barco, é o corpo de Ana, roxo, afogado, não há mais nada a ser feito. A mãe de Ana antão toma uma resolução, vai de bote até o meio do mar e joga o corpo dela.
_Não era isso que queria Mar, minha filha com você para sempre? Leve-a, eu abençôo o amor e o casamento de vocês.
Muito tempo depois ainda se ouve falar da história do mar, que apaixonado por uma menina fazia de tudo pelo seu amor e até hoje ainda podemos ver nas noites de luar a figura de uma menina passeando pela praia de vestido de dormir branco brincando com as ondas do Mar. Ana e o Mar, Mar e Ana, histórias que nos contam na cama antes da gente dormir. Todo sopro que apaga uma chama, reacende o que for pra durar.
fonte foto: O Meu Sonho Lindo
P.S: Para quem quiser ouvir a música aí segue o link: O Teatro Mágico - Ana e O Mar