sexta-feira, 28 de maio de 2010

Observando Luísa - Parte 2





Não podia ficar mais um minuto sem contemplar aqueles olhos. Era loucura, eu sabia, mas era mais forte que qualquer outro pensamento que eu já tivera. Segui Luísa até sua casa. Fiquei olhando como ela descia do carro, como procurava as chaves da casa na bolsa grande e desorganizada. Podia até mesmo ver a gotinha de suor que nascia em sua testa. Luísa me dominava, e eu não podia lutar contra isso. Só o que eu queria era ficar ali, parado observando cada movimento, cada passo de Luísa. A princípio pensei em bater na porta de sua casa e me declarar, mas e se ela me recusasse? E se ela me proíbisse de vê-la novamente? Não, isso não era possível. Era melhor ficar olhando de longe, mas sempre, do que falar com ela e correr e risco de nunca mais ver seus olhos negros. “Eu não sei parar de te olhar... não sei parar de te olhar, não vou parar de te olhar, eu não me canso de olhar... não vou parar de te olhar...” E para a cada inspiração de Luísa uma batida de meu coração. Dormi quando ela dormiu, ali mesmo, em frente a sua casa, e quando dei por mim já amanhecia, e me perguntei o que eu ainda fazia ali, na rua, admirando uma mulher que mal sabia de minha existência. Era triste pensar em minha vida sem ela, ainda agora, que tão pouco tempo se passara desde que nos falamos, e eu já estava tão envolvido... Ela estava saindo e eu a segui. Eu sabia que precisava ir para casa, tomar um banho, me alimentar, descansar... mas como me desligar dessa dependência? Descobri que ela trabalhava numa livraria no centro da cidade. Ela estava bonita, de jeans e uma blusa vermelha que realçava seus olhos de breu. Passei boa parte da manhã a observar seus movimentos no trabalho, mas acabei cedendo à fome e fui comer alguma coisa. Quase no fim do dia, retornei a meu posto em frente a sua casa, agora com meus binóculos para ajudar na observação de minha deusa. Ela chegou, parecia exausta, foi direto para o banheiro e eu passei a imaginá-la no banho, cada curva de seu corpo perfeito envolvida pelo vapor quente da água e seus músculos relaxando. Novamente tive impulsos de bater à sua porta, mas me controlei. Não queria que ela soubesse que eu estava ali, não queria quebrar a magia da sua existência. Como que lendo meus pensamentos, ela entreabriu a cortina e olhou em minha direção. Teria me visto? Teria percebido minha presença? E se tivesse, o que faria? Fechou. Minutos se passaram e ela não apareceu. Acho que era minha imaginação, minha mente já tão cansada de esperar por ela querendo que ela tivesse me visto. Luísa foi se deitar cedo aquela noite, apagou as luzes, ligou o Cd player, e eu ouvi: “... é tanta graça lá fora, passa o tempo sem você... mas pode sim ser sim amado e tudo acontecer... quero dançar com você”.


PS: continua ...


sexta-feira, 21 de maio de 2010

Re-publicar

Hello everybody! Mais uma sexta-feira, e mais uma vez estou por aqui. Apesar da falta de tempo (e de inspiração), tento manter meu compromisso com o blog. Essa semana resolvi re-publicar meu conto "Observando Luísa", que estava postando no Ideias Absurdas,  para que mais pessoas possam acompanhá-lo. Hoje trago o primeiro capítulo, que começa a contar a história de um homem extremamente tímido, que se apaixona loucamente por uma desconhecida e começa a seguir todos os seus passos. Espero que gostem:


Observando Luísa - Parte 1

Eu achava que tinha vivido demais, visto muitas coisas, atravessado todos os mares, lido muitos livros, mas não. Eu ainda não tinha amado de verdade. Não me parecia importante que isso ainda não tivesse acontecido, mas era. Muito importante. Só descobri o peso dessa experiência quando tropecei em Luísa. Foi assim mesmo, como um tropeço, e de repente tudo que eu tinha pensado ser importante em minha vida congelou, ficou pra trás. Luísa e seus olhos escuros como a madrugada sem luzes. Eu conheci Luísa por um capricho do destino. Estávamos numa loja em busca do mesmo produto: um CD dos Strokes. Acabamos descobrindo que nossos gostos musicais eram muito parecido, e sentamos para tomar um café. Conversamos por horas. Sempre fui muito tímido, mas a conversa com Luísa me hipnotizava e meus segredos mais profundos jorravam sem controle boca afora, contei a ela neus desejos mais ardentes e íntimos. Luísa. Só consigo me lembrar de seu nome e de seus olhos. Mesmo agora, depois de tanto tempo... Quando ela entrou no carro e foi embora, pude ouvir o verso: "Acabou, agora tá tudo acabado, seu vestido estampado, dei a quem pudesse servir..." Para mim, só poderia ser um sinal, ela também gostava de Ana Carolina! Me pus a pensar em tudo o que poderíamos ter em comum... Nunca acreditei na história de alma gêmea, muito menos em amor à primeira vista, mas o que eu sentia por Luísa naquele momente era inédito pra mim. Meu coração batia devagar e rápido sem que eu me desse conta. E o ar queimava em meus pulmões. Vontade de cantar. Dançar. Gritar. Resolvi que iria atrás dela. E foi assim que começou meu tormento...


PS: aguardem os próximos capítulos...


foto: DeviantArt:Candy-eyed's

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Poesia satírica

Neste semestre estamos estudando vários períodos literários, e dentre eles o Barroco, que tem, no Brasil, Gregório de Mattos como um de seus maiores representantes, que também ficou conhecido como Boca do Inferno, por utilizar suas poesias satíricas como um protesto a tudo o que estava ocorrendo no país naquele momento. E ele sabia fazer como ninguém essa caricatura do dia-a-dia do povo, utilizando de muito cinismo e crueldade, sem poupar ningúém, independente de cor, credo e posição social.
E depois de ler alguns de seus poemas, ouvir o Professor Guilherme Nicésio falar sobre seu estilo literário e recitar outros tantos poemas para nós, acabei me interessando pelo gênero, e não é que até arrisquei escrever a minha própria poesia satírica? Ei-la:


"Poema para Rafaela"
Não quero encontrar Rafaela
que anda por aí
como se o mundo fosse dela.
Por isso a rima medíocre,
na medida de Rafaela.
Rafaela queria ser britânica,
moderna e dinâmica,
Tráz sempre consigo um walkmann batido,
como fazem os de sua estirpe,
e tece seus sonhos descoloridos
mesmo sem ninguém para ouvir.
Você poderá argumentar:
“- Como é nojenta essa Rafaela!”
Porém, há algo que não se pode negar,
Rafaela é mulher forte
e eu desejo paciência e sorte
para, se por acaso, o amigo a encontrar.



Claro que não pretendo aqui me comparar a nenhum autor dos verdadeiros poemas satíricos da época Barroca, mas achei interessante o exercício de trabalhar com cinismo dentro da poesia.
Também não pretendo com o poema acima ofender ninguém em especial, por favor, que ninguém me interprete mal, é apenas um trabalho artístico, sem inspiração em seres reais.
E, se por um acaso do destino, alguma Rafaela se reconhecer em minhas palavras, peço que me desculpe, realmente não foi a minha intenção.
No fundo, quero apenas que todos se divirtam como eu me diverti ao ler os poemas satíricos de Gregório.