sexta-feira, 2 de julho de 2010

Observando Luísa - Parte 5




Após um janeiro chuvoso e lento, em que Luísa tirou férias e passou praticamente todos os dias em casa com a amiga que se demorava mais do que eu havia imaginado, o mês de fevereiro veio com um calor infernal, que me torturava dentro de meu carro quente e desconfortável. Assim que minha adorada voltou ao trabalho, senti que minha rotina de observação também voltaria. Eu não precisaria mais ficar imaginando o que as duas estavam fazendo dentro de casa, com janelas e portas fechadas o tempo todo, nem me esgueirar pelo quintal tentando ouvir alguma coisa, algum ruído que identificasse qual seria o passatempo delas. Algumas vezes consegui ouvir Luísa cantando baixinho: “...você é algo assim, é tudo pra mim, é mais que eu sonhava, baby...”, outras vezes só um silêncio sepulcral vinha da casa, eu pensava que elas estariam dormindo, já que a chuva não dava trégua. Aproveitei que Luísa passou no supermercado à caminho de casa para comprar garrafas d’água para tentar amenizar o calor que eu sentia naquele fim de tarde. Foi um mal negócio, já que encontrei por lá uma vizinha que adorava cuidar da minha vida, e quando me viu, de longe já veio gritando: “- nossa, quanto tempo! Você viajou? Porque a porta da sua casa está cheia de jornal e de correspondência que o carteiro deixa todos os dias... Eu estava preocupada com você... Por onde anda?”. Nem tive tempo de pensar no que responder, pois Luísa saiu de trás de uma das gôndolas do supermercado e parou na minha frente, me encarou, como se esperasse também por minha resposta. Fiquei sem fala, gaguejei, mas consegui dizer que estava fazendo uma pesquisa e por isso estava ficando muito pouco em casa. A vizinha tentou continuar o assunto, mas eu disfarcei e disse que precisava ir embora. Luísa voltou a me ignorar totalmente e voltou pra casa com suas compras. Eu continuei em frente à sua casa naquela noite quente, desejando muito estar em seus braços, ficar com ela para um banho gelado enquanto explorava seu corpo maravilhoso. Percebi que estava devaneando outra vez, e que aquilo estava se tornando muito freqüente. O que eu deveria fazer? Não conseguia imaginar levar um fora da Luísa, e achava que era melhor rastejar atrás dela como um verme do que ser obrigado a parar de vê-la todos os dias. Aproveitei a madrugada tranqüila na casa de minha amada para ouvir alguns Cd’s antigos que estavam no carro, e acabei viajando com a poesia de Cazuza: “o seu amor é uma mentira, que a minha vaidade quer...” Passei a noite acordado sonhando com ela. Mas na manhã seguinte, quem apareceu na porta não foi Luísa, e sim a amiga, e eu pude reparar que ela também era muito bonita e tinha um andar elegante. Ela veio em minha direção, mas eu não me preocupei, eu realmente queria falar com ela e dizer que ela estava abusando da hospitalidade de minha querida Luísa e deveria partir. Quando ela parou ao lado do carro, notei que ela usava um babydoll preto de rendas transparentes que valorizava muito sua cintura e seus seios. Senti-me pouco à vontade com tamanha beleza tão perto de mim, mas ainda assim não podia esquecer Luísa. Então ela disse: “- Você é realmente muito insistente. Achei que você fosse desistir por causa das chuvas, mas você continua aqui. O que você quer? Eu vou chamar a polícia....” Calma, não precisa. Eu não quero fazer mal nenhum a ninguém. Só estou tentando encontrar um jeito de falar para Luísa que eu a amo e não posso mais viver sem ela, mas tenho tanto medo de perdê-la que fico aqui juntando as migalhas que ela joga para mim... Por favor, diga a ela que eu sou apenas um homem apaixonado e que estou largando tudo para ficar ao lado dela. A moça me lançou um olhar desprezível e disse simplesmente: “- Esqueça, ela não tem intenção de mudar a vida dela. Vá embora.” Virou as costas e entrou na casa. O que era aquilo? Teria sido Luísa que mandara a amiga me dispensar? Não pode ser, ela não era assim, eu sabia. Tudo o que eu pensava era que precisava falar com Luísa e expressar meus sentimentos, para acabar com aquilo. E ouvia ecoar na minha cabeça: “Você precisa saber da piscina, da margarina, da Carolina, da gasolina. Você precisa saber de mim...”. Era isso mesmo, Luísa precisava saber de mim, de meus sentimentos, mas teria que ser por mim, e não por recadinhos. Estava decidido, no final de semana eu falaria com ela e resolveria essa tormenta.


 


(continua...)


foto: http://suicide-bee.deviantart.com/gallery/#/d1yhmg1

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