sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Decifra-me




Eu mesmo já fui muitos em um só. Num único dia, cada pedaço meu, um mundo diferente. Tomei sol e chuva, inflei no vento; comi e bebi quanto pude; cada passo à seu tempo. Um mundo diferente a cada instante, não só em mim, mas em todos. Quantos perambulam por aí e não sabem disso? Uma humanidade inteira e tantos mundos diferentes, basta olhar! Cada qual tem seus próprios pensamentos, e um pensamento é um mundo particular, não há como lhe pedir as chaves, tão pouco arrombar as portas para espiar o que vive lá dentro. Eu mesmo sou tão pequeno e tenho tantas histórias, mas diante desse esquecimento caprichoso, de pessoas e fatos, me sinto como uma partícula de meus infinitos mundos, a cada vez que abro meus olhos. E dentro de minha cabeça vivem tantos seres imaginários, que ainda que eu tivesse muito tempo, não os descreveria com a exatidão que merecem. Eu, que já fui tantos, e de tantos outros, hoje só quero ficar no escuro, e aquecer meus pés, pois já não me apetece mais nada. Sempre fui das sombras, agora sei, que fui um ser obscuro e de múltiplas faces. Só quero me aproximar do fundo do escuro, do fim da noite agourenta, e criar mais mundos diferentes em meus sonhos. Eu que sempre mantive os olhos fechados e ainda assim via tantas coisas, não me considero mais um nesse mundo de todos, deve haver algum sentido em tantos sinais, em tanta gente que anda ao meu lado e também leva dentro da cabeça seus mundos ordinários. Eu mesmo nunca dei importância para as criações alheias, como queria que me acendessem holofotes e me estendessem tapetes vermelhos ao passar? Meu caminho é de torturas e carrego comigo meus personagens, a fim de dar-lhes vida quando menos esperarem, e quando eu mais precisar fugir e me esconder de mim mesmo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Boa noite, boa sorte

Ao fechar a porta ouvi uma voz me dizer: “-Boa sorte!”. Era algo realmente interessante para se desejar à alguém, mas recusei. Essa noite não precisaria de sorte para fazer o que iria fazer, mas sim de muita coragem. E eu a encontrei no fundo de infinitas doses de Absinto... quanto mais líquido percorrendo meu sangue, mais coragem. Agora eu era um homem destemido. Peguei minha mochila, já preparada com tudo o que eu ia precisar e caí na noite fria – porque sempre tem que fazer tanto frio nessas noites? Olhei para o relógio, não poderia mais esperar. Sorrateiro, procurava andar nas sombras da lua, já era alta madrugada e estava muito escuro. Nem mesmo a lua queria me acompanhar dessa vez. Voltei a pensar na sorte, tentando descobrir para que a sorte servia. Acabei pensando em mil coisas sem importância nenhuma, então pela segunda vez nessa noite, deixei a sorte de lado. Apenas os morcegos, os verdadeiros donos da noite, me faziam companhia. Pensei naqueles que estavam dormindo em suas camas quentes, sem saber quem passava em frente às suas casas durante a madrugada. Para aliviar minha ansiedade, coloquei meus fones de ouvido e liguei Even Flow, do Pearl Jam. Deu certo, a guitarra me relaxou, e a voz de Eddie me fez esquecer aquilo que estava por fazer. Fui aos poucos me acostumando com a idéia daquele destino insólito que estava reservado para mim, e achei que a melhor solução era cumprir logo a minha missão, sem pensar em quem poderia ser prejudicado com ela. Já estava perto do lugar onde tudo aconteceria, tinha que ser rápido e sair sem olhar para trás, ou não conseguira dormir mais uma vez pensando se aquilo realmente era certo. Com certeza eu me sentiria mal mais uma vez com aquilo, mas não podia desistir agora. Ao chegar perto do prédio, meus olhos arderam com a claridade das luzes que vinham de lá, e senti um calafrio percorrer minha espinha com o ar gélido que saía do saguão de entrada - era ainda mais frio que o ar da noite. Sorrateiramente percorri os corredores vazios e sem emoção, com suas paredes brancas e impessoais, ouvindo meus passos ecoando solitários e cada vez mais próximos de seu destino. Enfim encontrei o quarto 77, e dentro dele estava minha última missão, meu último martírio nessa vida. Abri a porta sem tomar o menor cuidado em não fazer barulho, já que a pessoa que estava lá dentro não iria se incomodar com a minha presença. E agora, deveria contar com a sorte? Ou seria a hora certa de mostrar a minha coragem? Tanto faz, pensei, o importante é terminar com isso logo e sair daqui, para a consciência não me maltratar mais uma vez. No começo eu não gostava, mas depois de tanto repetir o mesmo ritual incansavelmente, acabei me acostumando, e até criei um método para que tudo fosse rápido e sem erros. Abri a mochila, calcei as luvas, abri o meu livro de Salmos, na mesma página de sempre, e sem pensar em nada comecei a ler o Salmo 92, mecanicamente e sem sentimento algum nas palavras que saíam de minha boca. Certamente a família ainda me agradeceria por terminar com aquele desconforto. Fiz o sinal da cruz, em mim e naquele desconhecido que estava ali, estendido em minha frente sem demonstrar nenhum sinal de que ainda vivia. Arrumei seus cabelos, segurei sua mão e o abençoei para que o seu deus o acompanhasse na passagem. Peguei minha garrafa de Absinto, dei um longo gole para aquecer o sangue e a alma já tão cansada de tanta maldade travestida de justiça e lentamente apertei o botão. Engraçado como a vida depende de tão pouco, nesses casos, apenas de um botão que comando uma máquina. Instantaneamente, uma após a outra, as luzes foram se apagando, o ruído foi diminuindo e eu sabia que a máquina estava desligada, e que amanhã estaria dando uma falsa vida a outro vegetal qualquer, apenas para satisfazer os caprichos de seus familiares, que certamente nunca lhe deram o devido valor. Aquela vida acabou, e mais uma parte da minha também, que não tinha valor algum. Então a realidade me cortou como um punhal afiado; eu também não era nada, sem sorte e sem valor. De que me valia empurrar essas almas para o além, enquanto eu mesmo me sentia num limbo? Foi como acordar de um sonho. Larguei a mochila, larguei a garrafa, tirei as luvas e corri. Corri como se fosse buscar minha vida em algum lugar longe dali. Senti os primeiros raios de sol lamberem minha pele, meus olhos lacrimejavam e eu não sabia por que. Corri ainda mais e como um bêbado inútil não sabia para onde ir, até que encontrei o lugar perfeito. Eu sempre soube que aquele viaduto teria alguma importância em minha vida inútil. Parei violentamente ao chegar ao muro de proteção, bati a cabeça, dei socos e pontapés naquela parede ridícula que tentava me conter agora, e ri, gargalhei como há tempos não fazia, olhei para o céu e agradeci por tudo aquilo que me fez viver até ali. Sem ter mais o que fazer, saltei sobre o muro e caí,do outro lado, onde não havia nada que pudesse me conter. Ninguém para segurar minha mão, ninguém para me desejar sorte. Esse era o fim para a minha justiça insana e anônima. Esse era o fim de minha pequenez e de meu egoísmo sem limites. O limite agora estava entre o céu e o chão. O limite para a sorte era a razão, foi meu último pensamento.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Observando Luísa - Parte 5




Após um janeiro chuvoso e lento, em que Luísa tirou férias e passou praticamente todos os dias em casa com a amiga que se demorava mais do que eu havia imaginado, o mês de fevereiro veio com um calor infernal, que me torturava dentro de meu carro quente e desconfortável. Assim que minha adorada voltou ao trabalho, senti que minha rotina de observação também voltaria. Eu não precisaria mais ficar imaginando o que as duas estavam fazendo dentro de casa, com janelas e portas fechadas o tempo todo, nem me esgueirar pelo quintal tentando ouvir alguma coisa, algum ruído que identificasse qual seria o passatempo delas. Algumas vezes consegui ouvir Luísa cantando baixinho: “...você é algo assim, é tudo pra mim, é mais que eu sonhava, baby...”, outras vezes só um silêncio sepulcral vinha da casa, eu pensava que elas estariam dormindo, já que a chuva não dava trégua. Aproveitei que Luísa passou no supermercado à caminho de casa para comprar garrafas d’água para tentar amenizar o calor que eu sentia naquele fim de tarde. Foi um mal negócio, já que encontrei por lá uma vizinha que adorava cuidar da minha vida, e quando me viu, de longe já veio gritando: “- nossa, quanto tempo! Você viajou? Porque a porta da sua casa está cheia de jornal e de correspondência que o carteiro deixa todos os dias... Eu estava preocupada com você... Por onde anda?”. Nem tive tempo de pensar no que responder, pois Luísa saiu de trás de uma das gôndolas do supermercado e parou na minha frente, me encarou, como se esperasse também por minha resposta. Fiquei sem fala, gaguejei, mas consegui dizer que estava fazendo uma pesquisa e por isso estava ficando muito pouco em casa. A vizinha tentou continuar o assunto, mas eu disfarcei e disse que precisava ir embora. Luísa voltou a me ignorar totalmente e voltou pra casa com suas compras. Eu continuei em frente à sua casa naquela noite quente, desejando muito estar em seus braços, ficar com ela para um banho gelado enquanto explorava seu corpo maravilhoso. Percebi que estava devaneando outra vez, e que aquilo estava se tornando muito freqüente. O que eu deveria fazer? Não conseguia imaginar levar um fora da Luísa, e achava que era melhor rastejar atrás dela como um verme do que ser obrigado a parar de vê-la todos os dias. Aproveitei a madrugada tranqüila na casa de minha amada para ouvir alguns Cd’s antigos que estavam no carro, e acabei viajando com a poesia de Cazuza: “o seu amor é uma mentira, que a minha vaidade quer...” Passei a noite acordado sonhando com ela. Mas na manhã seguinte, quem apareceu na porta não foi Luísa, e sim a amiga, e eu pude reparar que ela também era muito bonita e tinha um andar elegante. Ela veio em minha direção, mas eu não me preocupei, eu realmente queria falar com ela e dizer que ela estava abusando da hospitalidade de minha querida Luísa e deveria partir. Quando ela parou ao lado do carro, notei que ela usava um babydoll preto de rendas transparentes que valorizava muito sua cintura e seus seios. Senti-me pouco à vontade com tamanha beleza tão perto de mim, mas ainda assim não podia esquecer Luísa. Então ela disse: “- Você é realmente muito insistente. Achei que você fosse desistir por causa das chuvas, mas você continua aqui. O que você quer? Eu vou chamar a polícia....” Calma, não precisa. Eu não quero fazer mal nenhum a ninguém. Só estou tentando encontrar um jeito de falar para Luísa que eu a amo e não posso mais viver sem ela, mas tenho tanto medo de perdê-la que fico aqui juntando as migalhas que ela joga para mim... Por favor, diga a ela que eu sou apenas um homem apaixonado e que estou largando tudo para ficar ao lado dela. A moça me lançou um olhar desprezível e disse simplesmente: “- Esqueça, ela não tem intenção de mudar a vida dela. Vá embora.” Virou as costas e entrou na casa. O que era aquilo? Teria sido Luísa que mandara a amiga me dispensar? Não pode ser, ela não era assim, eu sabia. Tudo o que eu pensava era que precisava falar com Luísa e expressar meus sentimentos, para acabar com aquilo. E ouvia ecoar na minha cabeça: “Você precisa saber da piscina, da margarina, da Carolina, da gasolina. Você precisa saber de mim...”. Era isso mesmo, Luísa precisava saber de mim, de meus sentimentos, mas teria que ser por mim, e não por recadinhos. Estava decidido, no final de semana eu falaria com ela e resolveria essa tormenta.


 


(continua...)


foto: http://suicide-bee.deviantart.com/gallery/#/d1yhmg1

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Observando Luísa - Parte 4



“...I know I don’t know you, but I want you so bad, everyone has a secret locked, but can they keep it, oh no they can’t...” Foi ouvindo “Secret” tocando ao longe que eu despertei naquela manhã. Sem saber onde eu estava ou que dia era, fui abrindo os olhos aos poucos e tomando consciência de que eu ainda estava dentro do carro; lembrei-me que fiquei esperando a amiga de Luísa ir embora na noite passada, mas ela demorou muito e eu acabei pegando no sono ali mesmo. Estava muito curioso para saber quem era aquela garota que fazia companhia à minha Luísa naquelas últimas noites... será que era uma irmã, parente distante de visita, amiga que veio de longe? A verdade é que ela já estava lá há alguns dias e eu ficava cada vez com mais medo de ser descoberto. Não entendi porque naquela manhã minha amada estava ouvindo Maroon 5, ela costumava ouvir música nacional enquanto se arrumava para o trabalho. Á essa altura eu já sabia todos os hábitos de Luísa, cada coisa mínima que ela fazia a cada minuto do seu dia, por exemplo, nas últimas semanas ela vinha ouvindo muita Ana Carolina e muita Zélia Duncan, e quando a sua hóspede chegava elas ouviam U2 juntas bebendo Tequila, e iam dormir muito tarde. Ah! Como queria ser corajoso o bastante para bater em sua porta numa dessas noites e ficar rindo com elas até a madrugada... Para diminuir um pouco a minha vontade de estar com ela, decidi me aproximar da casa e olhar pela janela. Quando saí do carro, qual não foi a minha surpresa ao perceber que havia um prato com um pedaço de bolo e um copo de leite sobre uma pequena mureta próxima ao portão da casa dela. Só podia ser coisa de Luísa... mas como, e com que intenção ela deixaria aquilo ali, pra mim? Depois que ela deixou o cobertor, tudo começou a ficar estranho; ela abria bem as janelas e ficava olhando pra fora, na minha direção, sempre com uma música tocando alto, e cada uma das músicas que ela ouvia parecia sempre ser um recado pra mim. Acho que era minha consciência me alertando de que aquilo era muito errado, ninguém pode ficar cuidando da vida de outra pessoa dessa maneira que eu estava fazendo. Eu sabia que não estava certo, eu sabia que precisava ir embora e esquecer Luísa, esquecer aquela única tarde em que conversamos, esquecer de tudo, e no entanto, a única coisa que eu conseguia esquecer era de viver a minha própria vida. Aquilo não estava me fazendo bem. Eu já não cuidava de meus negócios há semanas, deixando tudo nas mãos de meu sócio, e ultimamente nem atendia ao celular para não ter que falar de outro assunto que não fosse Luísa. Tomei o leite e comi o bolo enfim, agradecendo mentalmente a ela que por menor que fosse já tinha uma preocupação com o meu bem-estar, e fui até a janela. Ela estava na sala, retirando copos e uma garrafa da mesa de centro, com certeza, resquícios da noite anterior. Mais alguns minutos se passaram e eu a ouvi dizendo a amiga que estava indo para o trabalho, saí correndo e voltei para meu posto de observação para que ela não me visse ali. Ela saiu, maravilhosa, com um vestido creme colado no corpo, sandálias de salto alto no mesmo tom da roupa e aquele perfume que eu tanto gostava e seria capaz de reconhecer em qualquer lugar. Só pude ver o reflexo de seus cabelos ao sol quando ela entrou no carro e ligou o rádio. A música só podia ser para me provocar... ou seria apenas imaginação? “... eu devia te deixar, mas vou continuar, pra castigar meu pobre coração...”. Para não perder o hábito, eu a segui. Ela trabalhou normalmente, e no final da tarde passou numa pizzaria antes de ir pra casa. Pensei que ela se encontraria com alguém, mas não, ela pediu a pizza para viagem e foi comer em casa com a amiga. Seria mais uma longa noite pra mim e eu não sabia mais até quando agüentaria essa situação que eu mesmo criara. E no meu CD-player tocava Cássia Eller: “...dona dos meus olhos é você, avião no ar, dia pra esses olhos sem te ver, é como o chão do mar...”



PS: continua...


foto: http://muszka.deviantart.com/gallery/#/d2b8w7d

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Observando Luísa - Parte 3




Deveria eu me declarar à Luísa? Era só isso que me atormentava naquele dia. Estava chovendo muito, o que tornava um tanto desconfortável ficar à sua porta. E o dia dela também estava monótono, ela simplesmente não saiu de casa nem um minuto, e as portas e janelas permaneceram fechadas o tempo todo. Eu imaginei que ela estava aproveitando o dia chuvoso para dormir e descansar da noite agitada que teve. Ela saíra com uma amiga e ficara até quase amanhecer numa balada. Eu a segui até a entrada da boate, mas preferi não entrar, para não ver o que ela faria lá dentro, porque sei que se eu a visse com alguém, não agüentaria segurar o ciúme e acabaria fazendo alguma besteira. Melhor esperar do lado de fora, é menos arriscado. Ela deve ter se divertido muito, mas prefiro não tentar imaginar o que ela fez. Preciso manter minha sanidade, foi o que concluí. E durante esse longo dia ela não apareceu... eu fiquei lá, esperando, e nada. A amiga que a acompanhou na balada também dormia, tinha ficado na casa dela quando chegaram, talvez por que estivesse muito bêbada para dirigir até sua casa. Achei um bonito gesto de amizade Luísa ter pensado nisso, ela estava preocupada com a segurança da amiga. Sem nada para fazer e devo admitir um pouco entediado por ficar ali sozinho, liguei o rádio do carro e sintonizei uma estação que estava tocando Chico Buarque, e era uma das minhas favoritas: “quero pesar feito cruz nas tuas costas, que te retalha em postas, mas no fundo gostas, quando a noite vem.” Parecia não haver música mais propícia para aquele momento; não estaria essa minha vigília se tornando uma cruz em minha vida? O que eu esperava como resultado disso? Luísa também se apaixonaria? Foi com esse pensamento que acabei pegando no sono e sonhando com Luísa, é claro. No sonho ela vinha até onde eu estava e dizia que sabia de tudo, que já tinha percebido a minha presença diária ali em frente à sua casa e que não estava brava, mas sim, se sentia lisonjeada por uma pessoa lhe dedicar tanto tempo e tanta atenção. Disse ainda que aquilo nunca tinha acontecido com ela antes, e que ela não sabia como agir, mas mesmo assim iria respeitar a minha vontade se eu ainda quisesse segui-la. Acordei assustado, ainda sonhando e sua voz ecoando real em minha cabeça. E quando dei por mim, eu estava coberto com uma manta, que antes não estava ali. Teria sido real? Teria sido ela, a minha Deusa quem veio me cobrir? Só poderia ter sido ela, tão boa e tão carinhosa, mas como? Ela realmente já sabia da minha presença?A chuva tinha diminuído e da casa de Luísa vinha uma melodia conhecida, tocando baixinho: “quero ficar no teu corpo feito tatuagem, que é pra te dar coragem pra seguir viagem, quando a noite vem...”


PS: ... continua ...


foto: http://m0thyyku.deviantart.com/gallery/#/d2qpv9u

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Observando Luísa - Parte 2





Não podia ficar mais um minuto sem contemplar aqueles olhos. Era loucura, eu sabia, mas era mais forte que qualquer outro pensamento que eu já tivera. Segui Luísa até sua casa. Fiquei olhando como ela descia do carro, como procurava as chaves da casa na bolsa grande e desorganizada. Podia até mesmo ver a gotinha de suor que nascia em sua testa. Luísa me dominava, e eu não podia lutar contra isso. Só o que eu queria era ficar ali, parado observando cada movimento, cada passo de Luísa. A princípio pensei em bater na porta de sua casa e me declarar, mas e se ela me recusasse? E se ela me proíbisse de vê-la novamente? Não, isso não era possível. Era melhor ficar olhando de longe, mas sempre, do que falar com ela e correr e risco de nunca mais ver seus olhos negros. “Eu não sei parar de te olhar... não sei parar de te olhar, não vou parar de te olhar, eu não me canso de olhar... não vou parar de te olhar...” E para a cada inspiração de Luísa uma batida de meu coração. Dormi quando ela dormiu, ali mesmo, em frente a sua casa, e quando dei por mim já amanhecia, e me perguntei o que eu ainda fazia ali, na rua, admirando uma mulher que mal sabia de minha existência. Era triste pensar em minha vida sem ela, ainda agora, que tão pouco tempo se passara desde que nos falamos, e eu já estava tão envolvido... Ela estava saindo e eu a segui. Eu sabia que precisava ir para casa, tomar um banho, me alimentar, descansar... mas como me desligar dessa dependência? Descobri que ela trabalhava numa livraria no centro da cidade. Ela estava bonita, de jeans e uma blusa vermelha que realçava seus olhos de breu. Passei boa parte da manhã a observar seus movimentos no trabalho, mas acabei cedendo à fome e fui comer alguma coisa. Quase no fim do dia, retornei a meu posto em frente a sua casa, agora com meus binóculos para ajudar na observação de minha deusa. Ela chegou, parecia exausta, foi direto para o banheiro e eu passei a imaginá-la no banho, cada curva de seu corpo perfeito envolvida pelo vapor quente da água e seus músculos relaxando. Novamente tive impulsos de bater à sua porta, mas me controlei. Não queria que ela soubesse que eu estava ali, não queria quebrar a magia da sua existência. Como que lendo meus pensamentos, ela entreabriu a cortina e olhou em minha direção. Teria me visto? Teria percebido minha presença? E se tivesse, o que faria? Fechou. Minutos se passaram e ela não apareceu. Acho que era minha imaginação, minha mente já tão cansada de esperar por ela querendo que ela tivesse me visto. Luísa foi se deitar cedo aquela noite, apagou as luzes, ligou o Cd player, e eu ouvi: “... é tanta graça lá fora, passa o tempo sem você... mas pode sim ser sim amado e tudo acontecer... quero dançar com você”.


PS: continua ...


sexta-feira, 21 de maio de 2010

Re-publicar

Hello everybody! Mais uma sexta-feira, e mais uma vez estou por aqui. Apesar da falta de tempo (e de inspiração), tento manter meu compromisso com o blog. Essa semana resolvi re-publicar meu conto "Observando Luísa", que estava postando no Ideias Absurdas,  para que mais pessoas possam acompanhá-lo. Hoje trago o primeiro capítulo, que começa a contar a história de um homem extremamente tímido, que se apaixona loucamente por uma desconhecida e começa a seguir todos os seus passos. Espero que gostem:


Observando Luísa - Parte 1

Eu achava que tinha vivido demais, visto muitas coisas, atravessado todos os mares, lido muitos livros, mas não. Eu ainda não tinha amado de verdade. Não me parecia importante que isso ainda não tivesse acontecido, mas era. Muito importante. Só descobri o peso dessa experiência quando tropecei em Luísa. Foi assim mesmo, como um tropeço, e de repente tudo que eu tinha pensado ser importante em minha vida congelou, ficou pra trás. Luísa e seus olhos escuros como a madrugada sem luzes. Eu conheci Luísa por um capricho do destino. Estávamos numa loja em busca do mesmo produto: um CD dos Strokes. Acabamos descobrindo que nossos gostos musicais eram muito parecido, e sentamos para tomar um café. Conversamos por horas. Sempre fui muito tímido, mas a conversa com Luísa me hipnotizava e meus segredos mais profundos jorravam sem controle boca afora, contei a ela neus desejos mais ardentes e íntimos. Luísa. Só consigo me lembrar de seu nome e de seus olhos. Mesmo agora, depois de tanto tempo... Quando ela entrou no carro e foi embora, pude ouvir o verso: "Acabou, agora tá tudo acabado, seu vestido estampado, dei a quem pudesse servir..." Para mim, só poderia ser um sinal, ela também gostava de Ana Carolina! Me pus a pensar em tudo o que poderíamos ter em comum... Nunca acreditei na história de alma gêmea, muito menos em amor à primeira vista, mas o que eu sentia por Luísa naquele momente era inédito pra mim. Meu coração batia devagar e rápido sem que eu me desse conta. E o ar queimava em meus pulmões. Vontade de cantar. Dançar. Gritar. Resolvi que iria atrás dela. E foi assim que começou meu tormento...


PS: aguardem os próximos capítulos...


foto: DeviantArt:Candy-eyed's

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Poesia satírica

Neste semestre estamos estudando vários períodos literários, e dentre eles o Barroco, que tem, no Brasil, Gregório de Mattos como um de seus maiores representantes, que também ficou conhecido como Boca do Inferno, por utilizar suas poesias satíricas como um protesto a tudo o que estava ocorrendo no país naquele momento. E ele sabia fazer como ninguém essa caricatura do dia-a-dia do povo, utilizando de muito cinismo e crueldade, sem poupar ningúém, independente de cor, credo e posição social.
E depois de ler alguns de seus poemas, ouvir o Professor Guilherme Nicésio falar sobre seu estilo literário e recitar outros tantos poemas para nós, acabei me interessando pelo gênero, e não é que até arrisquei escrever a minha própria poesia satírica? Ei-la:


"Poema para Rafaela"
Não quero encontrar Rafaela
que anda por aí
como se o mundo fosse dela.
Por isso a rima medíocre,
na medida de Rafaela.
Rafaela queria ser britânica,
moderna e dinâmica,
Tráz sempre consigo um walkmann batido,
como fazem os de sua estirpe,
e tece seus sonhos descoloridos
mesmo sem ninguém para ouvir.
Você poderá argumentar:
“- Como é nojenta essa Rafaela!”
Porém, há algo que não se pode negar,
Rafaela é mulher forte
e eu desejo paciência e sorte
para, se por acaso, o amigo a encontrar.



Claro que não pretendo aqui me comparar a nenhum autor dos verdadeiros poemas satíricos da época Barroca, mas achei interessante o exercício de trabalhar com cinismo dentro da poesia.
Também não pretendo com o poema acima ofender ninguém em especial, por favor, que ninguém me interprete mal, é apenas um trabalho artístico, sem inspiração em seres reais.
E, se por um acaso do destino, alguma Rafaela se reconhecer em minhas palavras, peço que me desculpe, realmente não foi a minha intenção.
No fundo, quero apenas que todos se divirtam como eu me diverti ao ler os poemas satíricos de Gregório.




sexta-feira, 23 de abril de 2010

Um grão de areia entre os Imortais



Quando criança costumava ir muito à casa de minha avó, em Americana, de ônibus e até de trem. Para chegar até a rodoviária, minha mãe, meus irmãos e eu andávamos pelo centro da cidade e íamos conhecendo as ruas, os prédios históricos e cada cantinho, bonito ou feio, desse nosso caminho. Sem ter consciência de que já era apaixonada por literatura, apesar dos muitos livros que lia na escola, eu já tinha uma curiosidade enorme por um prédio específico, muito bonito e que chamava muito a atenção. Minha mãe não sabia explicar o que faziam ali, então a dúvida só aumentava: como será lá dentro? Pois não é que agora, tanto tempo e tantos sonhos depois, eu consigo entrar naquele prédio majestoso e conhecer suas dependências. Me refiro ao prédio da "Academia Campinense de Letras", no centro da cidade, e com sua bela fachada cheia de colunas no estilo grego.


No último sábado estivemos eu, Cátia, Carol e Marina num evento promovido pela "Casa do Poeta de Campinas", que foi realizado ali, na Academia. Devo admitir que estava ansiosa para colocar meus pés pela primeira vez lá dentro. Logo que chegamos fomos muito bem recebidas por todos os oeganizadores do evento, que nos deixaram muito a vontade. Confesso também que não tinha a menor noção do que ia acontecer, e fui pega de surpresa quando, já na abertura do evento, o presidente da Academia nos perguntou se alguma de nós declamava algum poema. Minhas companheiras me incentivaram a ir lá na frente e ler um poema meu, que foi publicado na Coletânea da CBJE, "Lendas", e eu, morrendo de vergonha por estar na frente de tanta gente competente, li meu poeminha e voltei correndo para o meu lugar:


Dentre os muitos poetas que estavam presentes, conhecemos Rosana Marinho, magnífica declamadora que apresentou uma poesia caipira (que, infelizmente, eu não me lembro o nome). Ela disse que conhece e acompanha nosso blog:


Também tivemos a honra de conhecer o Sr. Moacir Monteiro, com uma história de vida linda, que nos presenteou com seu livro de poesias. Inclusive a Cátia pretende convidá-lo para participar de "Semana de Letras" este ano na FAC:


Ah! A Carol foi sorteada e ganhou um livro:


O presidente da Academia Campinense de Letras, João Baptista Muniz Ribeiro e sua esposa, foram extremamente simpáticos e nos receberam muito bem, deixando-nos muito à vontade:



O evento foi acompanhado pela bela música de Antônio Carlos e seu violão. Ele estava lançando seu 6º CD e nos brindou com canções belíssimas entre uma poesia e outra:


Enfim, foi um sábado marcante e inesquecível, onde conhecemos pessoas maravilhosas e criativas, declamadores incríveis que nos surpreenderam com textos difíceis como a declamação de José Luiz Lopes, que nos encantou com sua interpretação do 3º Solilóquio de Hamlet:



Sonho realizado: entrei na Academia Campinense de Letras. E comecei a batalhar para realizar outro sonho: me tornar uma Acadêmica (quem sabe?). Pretendo participar dos próximos encontros realizados pela "Casa do Poeta de Campinas", e todos estão convidados também.

Para acompanhar todos os eventos ou conhecer um pouco mais da história da Academia, visitem:

Academia Campinense de Letras

Casa do Poeta de Campinas


PS1: novo texto no blog Manufatura, não percam.

PS2: no título da postagem, grão de areia é como eu me senti entre os imortais da Academia e todos aqueles poetas maravilhosos. De verdade, fiquei tão pequena lá dentro que cheguei a pensar se eu realmente sei escrever alguma coisa.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Poeminha básico

Sem nada melhor para escrever, e para não passar mais uma semana em branco, vai aí um poema de Vinícius de Moraes:


"Ternura"

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
                                                                              [ extático da aurora.



PS: não deixem de ler no blog Ideias Absurdas mais uma série de Micro Histórias.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Brisas

Ando perdida entre tantos trabalhos para a faculdade, estágio, cuidar da casa e da família... e de mim! Também preciso de um tempo para minhas coisas, ou para simplesmente não fazer nada. Livros para ler, poesias para escrever, contos para revisar, enfim, tudo fora de ordem esperando por uma brecha na correria do dia a dia. Mas apesar de tudo isso, a música está sempre presente em minha vida; quando não as ouço, fico com alguma se repetindo constantemente em minha cabeça, como uma brisa amenizando o cansaço do pensamento.
Já que comecei a falar de música, preciso admitir que acabei por gostar (enfim) da Vanessa da Mata. Eu que não gostava dela porque tinha ouvido tanto nas rádios a música "Ai, ai, ai", não conseguia imaginar que um dia iria ouvir com calma seus CDs e acabaria gostando de seu estilo. Uma brisa de benevolência musical que acabou me conferindo mais emoções.
E por falar em emoções, essa semana brinquei com um professor pedindo a ele ao marcar a prova bimestral, que ao invés de nos fazer ler tantos livros e textos, elaborasse uma prova baseada na série "Crepúsculo", já que sobre isso eu tenho muito conhecimento e não precisaria estudar tanto, sobrando tempo para fazer os trabalhos pedidos pelos outros professores. Uma brisa de humor para quebrar aquele clima tenso de pré-prova.
Ainda sobre as provas, ando preocupada, o que é raro, já que eu sempre encaro tudo isso com muita tranquilidade e acabo sempre me saindo bem. Não quero me gabar, mas afinal estou estudando o que gosto, não sofro em nada por causa das provas. Entretanto agora a coisa apertou, tudo se acumulou e eu não estou conseguindo me desligar disso. Uma brisa de seriedade para me deixar mais alerta.
E para tentar me desligar, pensar com mais clareza sobre tudo o que tenho que fazer nesse final de semana, tenho ouvido muito Djavan. Poesia pura em suas músicas. Acalma e faz bem. Como uma brisa.
Enquanto estudava agora à tarde, encontrei um poema de Cecília Meireles que me fez pensar em partidas e chegadas:

"Valsa"
Fez tanto luar que eu pensei nos teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos,
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.

Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
e estudo apenas o ar e as águas.

Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias fora do mundo...
- Os ares fogem, viran-se as águas,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam.

Foi lendo uma antologia de poemas de Cecília Meireles que encontrei sentido para tudo aquilo que eu escrevia pensando ser poesia, quando eu tinha uns 12 ou 13 anos. No começo, tentava imitá-la, seguir seu estilo, e desde então comecei a desenvolver meu próprio estilo de fazer poesia, de pensar, de respirar poesia. E não é que, para encerrar uma semana tão atribulada, esse poema caiu como uma brisa leve numa tarde quente de verão? Ele representa algo que eu senti nesses últimos dias, não sei por que, mas uma sensação de perda de algo importante, de partida de alguém especial. Loucura ou imaginação poética? Não sei dizer, mas Cecília continua como referência pra mim em muitos momentos de minha vida. Ela é meu ídolo (já que "ídola", segundo o dicionário, siginifica mulher amada, idolatrada, e acho que não é bem isso que eu queria dizer...) e a brisa mais importante que vai comigo nos momentos em que preciso de arrimo. 
É aliando Djavan e Cecília Meireles que entro de cabeça num fim de semana que promete ser muito curto para tanto a fazer. Aproveitem vocês também a poesia desses dois artistas ímpares. Tenho certeza que essa brisa poética vai envolvê-los também.


PS1: Sobre a série "Crepúsculo", sei que muita gente não gosta e até torce o nariz para o estilo vampiresco criado por Stephanie Meyer, mas eu fui fisgada pelo enredo da história e pelo calor humando do nem um pouco humano vampiro Edward Cullen.

PS2: Mas também adoro o universo sombrio das histórias de Anne Ricce. Aliás, o vampiro Lestat está ente os meus personagens de histórias de terror preferidos. E Tom Cruise estava simplesmente perfeito na interpretação do personagem no filme "Entrevista com Vampiro" ao lado do nosso querido Brad Pitt, que também não pecou em nada em sua interpretação.

sexta-feira, 26 de março de 2010

See saw




Segundo o Wikipedia: “crítica é uma função de comentário sobre determinado tema, geralmente da esfera artística ou cultural, com o propósito de informar o leitor sob uma perspectiva não só descritiva, mas também de avaliação.”

Já sobre  feedback o mesmo site diz que “é o procedimento que consiste no provimento de informação à uma pessoa sobre o desempenho, conduta, eventualidade ou ação executada por esta, objetivando orientar, reorientar e/ou estimular uma ou mais ações de melhoria, sobre as ações futuras ou executadas anteriormente”.

Receber elogios é sempre bom e todo mundo gosta. Mas e quanto às criticas? Bem, nem todo mundo está aberto a aceitar críticas e acaba entrando em discussões sem razão. Quando comecei a publicar meus textos e torná-los públicos comecei também a me preparar para receber todo tipo de crítica, por que quem escreve sempre acha que o faz muito bem, mas pode ser que a maioria dos leitores não aprove o que lê. Esse é o grande barato do mundo, cada um tem uma opinião diferente sobre a mesma coisa, ainda bem. Não vou dizer que gosto apenas das críticas positivas que recebo, muito pelo contrário, as negativas também me incentivam e me fazem crescer, me fazem pensar se o que estou fazendo é realmente bom. Mas o que é bom de verdade? Depende de quem lê, ou de quem ouve, ou de quem sei lá o que. Depois de muito refletir sobre o que fazer se eu recebesse uma crítica pesada sobre qualquer um dos meu trabalhos, descobri que deveria encarar tudo numa boa, sem stress, como faço com a maioria das coisas. Mas a crítica ou o comentário (tanto positivo quanto negativo) tem que vir baseado em algo que foi lido, algo que a pessoa conheça e que não tenha gostado ou concordado. Todos tem direito a expressar suas opiniões, e quem está na chuva é pra se molhar mesmo, por isso eu encaro numa boa qualquer comentário, desde que seja embasado em algo concreto. Explico melhor: leia o texto, releia, reflita, e quando concluir uma opinião, por favor, venha me falar o que achou. Se gostou, ótimo, se não gostou eu vou adorar saber também, para conhecer pontos de vista diferentes dos meus. Quando quero falar sobre qualquer coisa, procuro primeiro conhecer e formar uma opinião real sobre o assunto, e espero que isso também aconteça com os meus trabalhos. O feedback é muito importante para quem joga seus textos na internet sem saber onde eles estão indo parar e quem os lerá. Infelizmente a gente acaba se decepcionando com quem a gente menos espera, aquelas pessoas próximas e queridas que não nos dão a devida atenção e nem se dão ao trabalho de conhecer para depois falar. Em contrapartida tem aquelas pessoas que nos conhecem pouco ou nada e lêem nossos textos, nossos poemas mais simples e nos elogiam sinceramente, ou nos criticam duramente, faz parte. Adoro quando alguém comenta meus posts, seja um comentário bom ou ruim, mas é bom saber o que o leitor está pensando sobre aquilo que foi escrito, muitas vezes, à duras penas, com muito sacrifício e sentimento. Alguns de meus poemas são extremamente pessoais e as pessoas que os lêem podem não entender a profundidade do sentimento que as palavras carregam, mas como posso saber disso se não houver um retorno do que eu escrevi? Impossível. Por isso, aproveito essa oportunidade para pedir aos meus poucos (ou muitos, não sei...) leitores assíduos, que comentem, se manifestem, falem bem, falem mal, mas me façam saber suas opiniões, para que eu continue exercendo esse ofício maravilhoso de colocar no papel as histórias mais malucas e os poemas mais doces que nascem aqui dentro dessa cabeça oca. Obrigada a todos.

PS1: como última remanescente desse blog, continuarei aqui, firme e forte, mas provavelmente, a cada 15 dias... o tempo é curto para tanto a fazer.

PS2: Cris Linardi acaba de lançar seu novo blog, conheçam, vale a pena: Vilarejo

PS3: o título do post significa gangorra em Inglês, e resolvi usá-lo como uma referência à pessoas “bipolares”, que são 0 agora e daqui a um minuto serão 1. É difícil conviver e mais difícil ainda ter paciência com esses seres que nos tiram do sério e depois dizem que é tudo brincadeira. Não é a toa que fizeram aquela música que diz: “brincadeira tem hora, brincadeira tem hora...”



Imagem: biolirios.wordpress.com/.../

sexta-feira, 12 de março de 2010

Forest

Para ler ouvindo a música Forest, do System of a down:




- Corra Athena! Corra!!!
Essa foi a última coisa que Athena conseguiu ouvir. Ela correu mais rápido do que jamais imaginara poder correr. Defendia sua vida naquela corrida. Tinha que correr, tinha que fazer seu corpo resistir ao cansaço que já ameaçava aparecer. Ela forçava os pulmões para respirar, mas o ar já não vinha. Athena correu sem olhar para trás. E, como num filme de terror, quando ela achou que ia conseguir, caiu. Caiu e perdeu alguns segundos preciosos até conseguir se levantar e voltar a correr. As pernas não obedeciam, gritavam por descanso. A cabeça latejava e os olhos estavam turvos. Falta de ar. Dor. Mas ela olhava sempre à frente e repetia mentalmente aquelas palavras: “Corra Athena! Corra!”. Tinha que resistir, se não fosse por si mesma, mas pelas pessoas que a libertaram. Tinha que conseguir chegar o mais longe possível daquele lugar, e deixar lá toda a dor e todo o sofrimento que vivera. Tinha que correr. Já conseguia ver o sol por entre as árvores, devia estar chegando ao final da floresta. Seus cabelos já estavam cheios de folhas. Seu rosto cortado pelos pequenos galhos das árvores que batiam em sua face com força enquanto tentava correr e desviar deles. Por mais de uma vez enfiou os pés em buracos, tropeçou em raízes expostas, caiu. Sentiu um ardor na palma da mão, e percebeu que havia se machucado numa das quedas, estava com mãos e braços sangrando. Já não sabia mais o que faltava acontecer. Como num sonho, imaginou que flutuava para fora da escuridão da floresta, que não precisava mais forçar pernas e pés a se moverem... Como num sonho... Sentiu de repente uma dor lancinante nos pés, e pensou que deveriam ser espinhos cravados na carne desafiando-a a continuar com aquela corrida. Ela não desanimou, seguiu correndo e lançando o corpo à frente o máximo que podia. Seus ouvidos sofriam com o barulho cortante do vento. Seus olhos agora estavam cheios de lágrimas e ela piscava para tentar afastá-las, mas a cada tentativa elas aumentavam mais e tornavam a sua visão ainda mais difícil. Seus lábios e sua boca estavam secos, ela precisava correr ainda mais rápido para alcançar água e saciar sua sede. Athena pensava já ter corrido tanto e estar tão distante, que parecia ouvir o som de tambores sendo tocados em algum lugar à frente. Ecos dos batimentos frenéticos de seu coração. Nunca pensou que chegaria tão longe. Correu e adentrou ainda mais na floresta lúgubre, tentando fugir da escuridão. Deixou os tambores e seus medos para trás, lá onde a floresta ainda não era escura e não assustava. Se ao menos conseguisse atravessar e chegar do outro lado, onde vira aquela luz.... Imprimiu ainda mais força nas coxas para conduzirem a corrida e esqueceu a dor nos pés - cuidaria deles mais tarde. Cuidaria de si mesma como nunca fizera antes. A luz foi ficando maior e mais nítida: cegava. Fazia doer as retinas e queimava a pele tão acostumada à ausência do sol. Athena correu, faltava pouco. Chegou ao fim. E no fim encontrou algo totalmente inesperado. Se assustou com aquilo e não conseguiu refrear a corrida a tempo. Na obsessão de chegar ao outro lado, não pensou no que poderia encontrar lá. Encontrou um penhasco. Ela tentou parar na beira daquele abismo sem fim, mas as pernas na adrenalina de continuar correndo não obedeceram ao seu comando, e Athena caiu. Se jogou num voo leve e se deixou flutuar sem pensar no fim, sem pensar no que faria quando encontrasse o chão. Perdeu todo o medo, perdeu todo aquele peso que vinha carregando. Athena parou de correr e voou. E era apenas uma criança novamente. Aproveitando a queda livre ouviu nitidamente palavras conhecidas ecoarem em sua mente tomada pela liberdade:
- Bata as asas Athena! Voe!!!

sexta-feira, 5 de março de 2010

Fã de Carteirinha

Estava assistindo, pela enésima vez, ao filme “O Auto da Compadecida”, e confesso que ainda acho graça nas piadas. E não são só as piadas que chamam a atenção nesse filme, mas, principalmente a atuação dos atores, todos eles dão um show de interpretação: Diogo Vilela, o marido traído que tenta manter a “fama de mau”, mas é o tempo todo passado para trás pela mulher, Denise Fraga; Matheus Nachtergaele está simplesmente perfeito como João Grilo, não há o que comentar; e ainda o padre, o bispo, o coronel vem completar a belíssima performance de Selton Melo. Sou fã do cara, acho que ele é um dos melhores atores de sua geração. Ele encara todo tipo de personagem, desde anjo na novela das 8 até o inesquecível Chicó. Suas falas no filme ficam gravadas na memória da gente, e quando percebemos estamos repetindo: “... não sei, só sei que foi assim...”. Em meio à suas confusões, Chicó se mostra uma pessoa boa e muito amiga do companheiro de sempre, João Grilo. Tanto que, quando João morre e Chicó fica com o dinheiro herdado em um dos muitos golpes aplicados pela dupla, ele promete doar toda a quantia para Nossa Senhora se o amigo sobrevivesse. Claramente foi uma promessa feita a fim de não ser cumprida, já que o amigo não poderia ressuscitar e ele acabaria ficando com o dinheiro. Mas eis que o impossível acontece e João volta dos mortos instantes antes de ser enterrado pelo próprio Chicó numa vala aberta em meio ao sertão, e ele tem realmente que fazer a doação para a igreja, ficando pobre novamente. Nesse trecho do filme surge mais um bordão inesquecível: “ah! promessa safada, ah! promessa sem jeito!”. Quem estava vivendo em marte nos últimos anos e ainda não viu o filme vai ficar bravo comigo, mas devo contar que no final tudo acaba bem com os dois amigos e eles continuam juntos, mesmo com o casamento de Chicó com D. Rosinha, que rende muito boas risadas. Lembrando que o filme foi adaptado da obra homônima do escritor Ariano Suassuna e que já tinha sido filmada, porém com menos sucesso que a versão mais recente.
Ainda sobre Selton, quero ressaltar sua interpretação no filme “Meu nome não é Jhonny”. Ele encarna com maestria um personagem real, cheio de problemas com drogas (assunto difícil de ser tratado e também muito atual) e que é levado por um caminho sem volta, apesar de ser de uma família de classe média, porém desestabilizada. Interpretação digna de um Oscar, na minha humilde opinião. Inclusive nesse filme ele teve a opinião do verdadeiro Jhonny para a criação do personagem, e foi muito elogiado por sua atuação. Mas eu sou suspeita para falar qualquer coisa, porque sou fã dele e acabo gostando de tudo o que ele faz. Ainda entre os muitos trabalhos de Selton no cinema temos o filme “Jean Charles”, que conta a história do brasileiro morto por engano numa estação de metrô inglesa, e “O Cheiro do Ralo". Outro bom filme dele é “Mulher Invisível”, junto com Luana Piovani: ele namora uma mulher perfeita, mas que mais ninguém consegue ver. O amigo tenta convencê-lo de que a mulher não existe, mas ele não acredita e passa a viver cada vez mais para o amor dessa mulher, que faz tudo para agradá-lo. O filme é muito engraçado e com um final surpreendente (não vou contar esse). Selton também fez “Lisbela e o Prisioneiro”, uma comédia com um toque de romantismo, mas que eu não gosto muito. Assisti umas duas vezes, a atuação dele é muito boa, mas para mim, o melhor do filme é a música de Caetano Veloso “Você não me ensinou a te esquecer”, que tocou muito em todas as rádios por causa do sucesso do filme. Já no teatro destaques para a peça “O Zelador”, que, inclusive, eu assisti, e onde passei por um dos momentos mais loucos da minha vida. Explico: eu e meu cunhado estávamos sentados na escada do teatro esperando a peça começar, nós tínhamos chegado um pouco cedo para conseguir um bom lugar, e quando a gente menos espera não é que aparece o próprio Selton com alguns amigos, e ficam bem na nossa frente fazendo um tipo de brincadeira ou sei lá o que, sendo filmados por um deles. Eu, que sempre me perguntei o que faria se encontrasse alguém famoso de quem eu gosto muito, tive a resposta nessa noite: não fiz nada! Não consegui me mexer, fiquei a li sentada, frente a frente com o Selton, e mal consegui abrir a boca para falar para o meu cunhado: “olha ele ali!”. No fim das contas, foi engraçado. Eles voltaram para dentro do teatro e a gente saiu do nosso estado de letargia só para dizer: “- Não acredito que ele estava aqui e a gente não fez nada!”. A peça é muito boa, com Selton interpretando Mick, que é irmão de Aston e não concorda com a mania dele de levar tudo que encontra pela rua para dentro de casa, até que um dia Aston encontra um velho garçom num bar e o convida para morar com eles. A partir daí, Aston tenta fazer com que o velho se torne o zelador do edifício, contra a vontade do irmão, Mick. Nessa peça Selton faz sua estréia como produtor teatral. Mas a verdade é que fiquei o tempo todo pensando na chance que eu perdi de falar um oizinho tímido para ele, ou ser mais ousada e pedir um autógrafo, ou uma foto... Depois disso passei a entender melhor o que é chorar sobre o leite derramado. Selton também fez muitos trabalhos para a televisão, entre eles a sitcom “Os Aspones”, que está entre os melhores programas da Rede Globo, novamente, na minha opinião. Muito engraçado e com sacadas ótimas sobre o dia-a-dia de uma repartição pública onde ninguém faz nada. Também na Globo participou de “Os Maias”, “A Próxima Vítima”, “Tropicaliente”, “Você Decide”, e da última temporada de “Os Normais”, e muito mais. Destaque para sua atuação na novela “A Indomada”, como Emanuel Faruk, que, segundo o próprio Selton foi um divisor de águas em sua carreira. Enfim, ele manda bem em tudo: é ator, diretor, produtor, apresentador e dublador. Para quem não se lembra, ele fez a voz de Ralph Machio em “Karatê Kid 2 e 3”, além de dublar Kenai em “Irmão Urso”, da Disney. No entanto, a melhor dublagem dele foi em “A Nova Onda do Imperador”, desenho, também da Disney, em que ele dubla o personagem Kuzko, um imperador cheio de vontades que tem que se arriscar a atravessar uma floresta perigosa para recuperar seu reino, porém, como uma lhama. Isso mesmo, ele é transformado em lhama pela maligna Yzma, a conselheira do imperador que é mais feia que briga de foice, e seu ajudante atrapalhado, Kronk. O filme é muito engraçado e eu recomendo para quem ainda não viu. Selton também apresenta o programa “Tarja Preta” no Canal Brasil, onde ele entrevista profissionais do cinema e pessoas ligadas à cultura em geral.
Todo esse papo só para expressar minha admiração por Selton Melo e por todo o seu trabalho, inclusive, como diretor de vídeo clipe. Ele dirigiu três vídeos do Ira!, entre eles “Eu vou tentar”, que é o máximo, e um da cantora Ana Cañas. Ele também se arriscou como apresentador do prêmio VMB, da MTV, em 2004 e 2005, tendo concorrido nesse ano ao prêmio de melhor diretor pelo vídeo do Ira!, citado anteriormente. Ele perdeu o prêmio mas não perdeu a pose na hora de anunciar o vencedor, como sempre, com muito bom humor e profissionalismo.
Se você também é fã do Selton, acompanhe o blog oficial dele, recheado de informações da carreira desse super ator.


PS: no Blog da Cris tem um post muito interessante sobre a presença feminina na vida dos homens, sem ser muito feminista, vale a pena conferir.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Tempo, tempo, mano velho...


Eu nunca quis envelhecer, isso é fato. Mas as coisas nem sempre acontecem como queremos, principalmente no que se refere ao tempo. Todos envelhecemos, e durante o Sr. Carnaval tive de “tempo” de refletir sobre isso. Na verdade, esse assunto se transformou em dois, e os explico agora; Madonna esteve no Brasil novamente. Eu, que cresci ouvindo suas músicas e as críticas à suas atitudes escandalosas, adoro que ela esteja por aqui, curtindo um pouco o clima da maior festa do mundo (?). Mas deixando o carnaval um pouco de lado, o que me fez realmente pensar é em como o tempo também passou para ela, apesar de ter recursos financeiros infinitos para tentar se manter sempre jovem e bonita, o tempo é cruel e imparcial, atinge a todos, sem exceção. E se até Madonna fica velha, por que não eu? Se eu já disse aqui que cresci com ela, supõe-se que eu já tenha uma certa idade, afinal, ela se lançou na carreira lá pelos idos de 1983... Séculos atrás! E eu realmente a acompanho desde então, quando ela cantava “Material Girl” com aquela voz fininha... E depois de tantas peripécias, casar, separar, escandalizar, ser mãe, voltar a escandalizar, fazer sucesso mundo afora, eis que ela se encontra aqui no nosso Brasil, bem à vontade, diga-se de passagem, como podemos contatar pelos beijos “adolescentes” trocados com o namorado Jesus Luz em meio à multidão. Na primeira vez em que Madonna esteve no país em 1993, com a turnê "The Girlie Show" eu quis muito assistir ao show, mas não consegui por “n” motivos. Cheguei realmente a ficar com febre por perder a oportunidade de ver minha cantora preferida ao vivo, mas passou. Depôs disso, assisti ao documentário “Na cama com Madonna” e consegui ver as fotos do tal livro “Sex”, que hoje em dia já não escandaliza mais ninguém. E se hoje as pessoas estão acostumadas a esse tipo de exposição dos artistas em geral, é justamente porque ela, Madonna, começou tudo isso: não fosse ela, jamais veríamos a chata da Britney ou a pouco talentosa Lady Gaga, que dizem por aí, é a nova Madonna - como se isso fosse possível. Na minha opinião, jamais existirá uma nova Madonna nem uma nova (ou novo) quem quer que seja, já que uma pessoa só vive uma vez, e depois que ela inova em alguma coisa não adianta outro tentar fazer o mesmo, não vai dar certo, e no caso de Madonna, ela inovou em muitos aspectos, mesmo que muitos não concordem com isso. Me digam o que Lady Gaga pode nos oferecer de tão importante, ou diferente na sua área, que vá torná-la um ícone mundial ou uma personalidade imortal, como Madonna ou Michael Jackson?

A rainha do pop está quase com cara de avó, mas ainda chama a atenção das câmeras por onde quer que passe. E eu continuo gostando dela e de suas músicas “modernas”, porque sei que um artista tem que se renovar sempre, e acompanhar as tendências atuais, ou seja, fazer música que as pessoas gostem, para ser bem aceita pelo novo público e pelo antigo, que cresceu e ficou bem mais exigente, querendo ouvir algo mais do que “Like a virgin”.

Para mostrar a diferença entre uma Madonna e outra, abaixo tem dois vídeos, de duas das minhas músicas preferidas. O primeiro, "Lucky Star", mostra exatamente como ela no começo da carreira tentava conquistar seus fãs apeas utilizando a voz e a dança, num videoclipe com poucos recursos, e não utilizava subterfúgios como explorar o corpo e o sexo. No segundo, "What feels like for a girl", um dos mais bem feitos, na minha opinião, ela já faz cara de má e sem escrúpulos barbarizar por vários lugares da cidade dirigindo um belo carro para desespero da senhora que está a seu lado:

 




A outra parte do post também se trata da passagem do tempo, mas para outra pessoa muito querida e que me deixou um tanto quanto vazia com sua ausência: Charles Gavin. Sim, ele decidiu deixar os Titãs, e a primeira pergunta que todos devem ter feito ao saber disso é: Por que? Ele alega motivos pessoais, e como Tony Belloto bem comentou em sua coluna na Veja On line: “existe alegação mais impessoal do que “motivos pessoais”?...” Eu só consegui chegar a uma conclusão sobre isso: o tempo pegou Gavin também! Depois de agüentar de quase tudo junto com a banda, desde o início difícil, drogas, prisões, shows, viagens, brigas, reconciliações, queda, ascensão, eis que ele foi abatido pelo cansaço, pela idade, pelo passar do tempo... Imaginei como foi para ele tomar essa decisão, já que uma banda é como um casamento, um compromisso que envolve mais de uma pessoa e é sempre complicado de se desfazer. Charles deve ter acordado numa manhã quente de verão e pensado: “Tô cansado!” Que fosse do cabelo, da barba, das roupas, de ser igual, mas não, era de ser astro do rock, de ser batera, a alma de uma banda. Todos passamos por isso, eu acho, um momento de reflexão a certa altura da vida, e alguns decidem chutar o balde e começar tudo de novo em algum outro lugar, e essas pessoas de opinião forte é que sabem viver. Que Gavin seja feliz no que escolher fazer daqui para o resto de sua vida, e que os Titãs (que agora são 4) não esmoreçam e continuem na estrada fazendo alegria de fãs já um poucos cansados também pelo peso da idade como eu.

Para terminar, dois vídeos também da minha banda preferida: no primeiro, "Isso", Paulo Miklos mostra um pouco de seu talento como ator interagindo com uma elefante, ao som de uma baladinha romântica. Já no segundo, "Antes de você", do mais recente trabalho dos Titãs "Sacos Plásticos", um capricho de arte e fotografia, com os fãs participando junto com a banda pelas ruas de São Paulo. Adoro o solo de guitarra do Tony, que, apesar da passagem do tempo e de uma hérnia de disco, não perdeu a mão e continua mandando muito bem:









PS1: o show de Madonna no Morumbi em 2008 foi a realização de um sonho, e valeu muito à pena esperar 15 anos para vê-la. Agora, como disse José Simão, será possível encontra-la, de repente, até na fila do pão.








PS2: de todas as perdas por quê passaram os Titãs, talvez essa seja a que mais me abalou. Apesar de Marcelo Frommer ter nos abandonado tão precocemente, a falta que Gavin vai fazer é muito grande. E eu que pensei que veria a banda tocando esse ano, cada qual com seu instrumento, sem convidados... não vai ser possível. O mais engraçado é que a cada show deles que assisto, a banda está menor... (ainda bem que vi o show do Arnaldo Antunes, ano passado, rsss).

PS3: para quem também gosta de Titãs, pode ler o texto que postei no Ideias Absurdas falando sobre os talentos individuais de cada integrante da banda: É proibido fumar.


fontes:
Wikipedia
Titãs.net
Veja online
Madonna online

fotos:
Veja online
Madonna online
acervo pessoal

** o título da postagem faz referência a música do Pato Fú "Sobre o tempo"

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Para variar... um conto.

Olá pessoal! Será que ainda tem alguém ai?
Na semana passada o tempo foi curto demais para tanto a fazer, e infelizmente não passei por aqui. Mas hoje retorno com mais uma histórinha para quebrar um pouco esse clima de carnaval:



"Vou dançar e não vou parar!"






Em minha psicose vou dançar, como se nunca tivesse dançado antes. Não vou parar. Não sei se posso ficar parada aqui até me mandarem sair. Já nem sei se posso escrever de mim sem usar a terceira pessoa. Não me olhe como se fosse a primeira ou a última vez. Não me olhe. Não posso ser um livro aberto e nem quero ser um diário mal escrito. Não ria, não me sorria assim, que eu perco a compostura, quebro as promessas e acabo me perdendo de mim. E se me perco agora, como vou dançar? Como vou rodopiar ao léu do vento, nessa noite que começa agora? Minha vida começa com essa noite, com essa música... e a dança! Quero sair à chuva e dançar sob ela feito criança. Não posso parar. Meus pés passeiam pela pista de dança, e meu corpo se move como se não fosse meu... E é de mim que vem a força dessa dança, balançar a cabeça para frente e para trás, jogar os cabelos, estalar os dedos, seguir o ritmo. Ritmo que embala sonhos e pesadelos, e sei que tenho tido muitos, mas a música, quando me toma faz esquecer cada fragmento de sonho ruim, cada segundo das noites anteriores, a espera. Dançar meu conto de fadas imperfeito, dançar histórias que nunca me foram contadas e que nunca serão. Posso dançar e escapar dessa realidade que me torna invisível a todos os outros, posso ser fogo, posso ser eu! A única exceção à minha dança é esse vento que bate em meus cabelos, seca o suor quente em meu corpo – e eu preciso tanto dele! - só mesmo ele para me lembrar que as luzes já se apagaram, todos se foram, a música toca cada vez mais baixo, mas eu danço. E não me olhe nem ria de mim, só quero levar essa paixão musical até as últimas conseqüências, ou até a música parar de tocar. Dançar como se nunca tivesse dançado antes, e pedir que não me olhe. Para escrever de mim, sem promessas para quebrar.



 
PS: saudades de todos que andam sumidos do nosso espaço. Entendo que assim como eu devem estar sem o danado do tempo, mas é a vida.


 

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Mais uma história...

Hello everybody!!! Que semana mais parada por aqui pessoal! Vamos lá, ânimo! Semana que vem estaremos de volta à rotina, com algumas baixas significativas, mas... enfim.
Diz o ditado que quem conta um conto aumenta um ponto. Eu, que ainda quero ganhar muitos pontos, venho postar mais um pequeno conto aqui no nosso espaço letreiro. Espero que curtam:

"Atrás daquela porta"

Eu já estava acostumada com o barulho; ele só ouvia hardcore, dia e noite sem intervalos. E pintava. Ele era um artista independente, pintava camisetas e escrevia letras de música para os amigos, porque não sabia tocar nada. Mesmo com o som alto eu podia ouvi-lo trabalhando através da parede fina que separava nossos apartamentos e nossas vidas. Ele nunca falava comigo. Me encontrava no corredor e só acenava com a cabeça. Um dia, analisando o lixo, descobri que ele tomava muito leite, eram caixas e mais caixas depositadas na lixeira. E ouvia muito hardcore. Enquanto ele pintava eu escrevia nossa história, palavra por palavra não dita, e cada uma delas ao riscar a folha de papel onde ficaria para sempre também riscava meu coração. Minha mãe dizia pra eu achar alguém inteligente e com um bom trabalho, alguém que pudesse me garantir um bom futuro. Com certeza ela reprovaria o cara que eu escolhi pra mim. Até mesmo o cara que eu escolhi me reprovaria. Ele pintava sem parar. E ouvia hardcore. E eu escrevia nossa história: “ontem nos encontramos no elevador e não pude resistir... agarrei-o e beijei-o com violência, sem tempo para reagir, ele só pode corresponder ao beijo. Ele me agarrou também, com toda a força de seu corpo musculoso e me mordeu os lábios carinhosamente, puxou meus cabelos com delicadeza e ficou ali, me beijando, passando sua língua na minha, sem o menor pudor, sem perguntar quem eu era ou o que queria... E quando as portas do elevador se abriram a magia acabou. Os braços se soltaram, as bocas se distanciaram e foi como se nunca tivéssemos nos visto antes. Cada um tomou seu próprio caminho...”. Já é tarde, posso ouvi-lo bocejar de cansaço, mas a música continua tocando infinitamente. E eu escrevendo nossa história... não é um romance, é um acesso de raiva. Em apenas dez segundos poderia chegar à porta dele e bater, mas os passos pareciam longos demais. Melhor colar o ouvido na parede e esperar decorar os sons que ele fazia. Pensei em pintar as paredes para diminuir o contato, mas não valia à pena. Risquei algumas palavras sem saber por que estavam ali. O hardcore me tirava o sono, mas o silêncio do meu apartamento era capaz de trincar os espelhos; azar. Nossa história vai fazer aniversário. Acho que vou tomar um copo de leite.


PS: hoje, excepcionalmente, não haverá PS's.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Enfim, a seleção!

Hello everybody! Aos 45 do segundo tempo, eis-me aqui. E devo dizer que estou super feliz!
Enviei um conto para a seleção desse mês da Câmara Brasileira de Jovens Escritores, assim como o fez Cris Linardi, e não é que esse conto foi selecionado para ser publicado? Ah, eu não poderia estar mais contente! Portanto, apesar de já ter postado esse conto no Manufatura na minha estreia por lá (aliás, acho que foi isso que me deu sorte), vou colocá-lo aqui também, em comemoração à escolha.

"Rotina"

Sou a moradora do segundo andar, apesar de querer realmente morar no primeiro, de onde a vista é mais privilegiada. Você provavelmente não me conhece, assim como o restante dos meus vizinhos. Eu vivo aqui, só comigo, e não vejo problema algum nisso. Faço o que quero quando quero e ninguém pode controlar minha vida. Pensei em ter um gato, para me fazer companhia, mas acabei concluindo que seria trabalho demais. Estou sempre lendo um bom livro, e eles me garantem a companhia de que preciso. Gosto de ouvir Anita Backer tocando bem baixinho no CD player no final da tarde, quando me sento na varanda, bebo minha dose diária de vodka barata e fico observando o movimento dos moradores, entrando e saindo, vivendo suas vidinhas miseráveis. Alguns são interessantes, como aquele casal do carro branco. Eles saem todos os dias discutindo, e quando voltam pra casa, estão só risos. E eu me pergunto que tipo de rotina doentia é essa. A senhora do terceiro andar também me chama muito a atenção. Ela recebe muitas visitas de técnicos de todas as espécies: encanador, eletricista, aquele que conserta eletrodomésticos, o cara da TV a cabo. Todos eles aparecem com freqüência em sua casa, e ela os trata muito bem. Pelos barulhos estranhos que ouço às vezes, acredito que eles devam prestar muitos serviços a ela. Crianças não me causam curiosidade, por isso não tenho nada para falar delas. Há também um senhor de uns cinqüenta anos, que mora no oitavo andar, que sai todas as manhãs para passear com um poodle horrível e fica me olhando. Outro dia ele piscou pra mim e me mandou um beijo. Pobre homem, ele nem imagina. Os homens não me despertam interesse. Na verdade, eu gostaria de encontrar uma mulher que me fizesse todas aquelas coisas que passam em filmes de lésbicas. Esse é meu verdadeiro sonho, encontrar uma boa amante, para passar as madrugadas comigo fumando um cigarro na varanda e curtindo Sade. Muitas vezes gosto de ficar sentada nas escadas e imaginando o que as pessoas estão fazendo em seus apartamentos, do que elas gostam, o que comem. É uma obsessão estranha, mas sinto prazer em inventar vida para os outros. Numa noite dessas, estava muito quente e decidi ficar nas escadas ouvindo Aretha Franklin no Ipod, com meu copo de vodka e gelo, e ela surgiu. Aquela que eu sempre esperava, a minha amante fantástica. Era morena, de olhar decidido. Ela me pegou pela mão e me levou à loucura. É só o que posso contar, pois os detalhes são íntimos demais, e cabe a você imaginar, assim como eu imagino tudo o que você faz quando fecha sua porta. Você pode até cruzar comigo um dia pelos corredores, mas saberá apenas que sou a moradora do segundo andar.



PS1: também entrei na seleção de poesias, com o poema Lendas, que publiquei no Milonga.

PS2: para quem gosta de escrever e ainda não conhece o Projeto da CBJE, entre no site e participe.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Novos Talentos...Ensaio Sobre A Loucura


Como vão vocês? Saudades de todos OS LETREIROS e também dos leitores assíduos do blog. Hoje trago uma coisa diferente, sempre publicamos textos, poemas e matérias nossas aqui. Decidi dar espaço ao trabalho de outros colegas de fora do blog. Publico hoje o texto "Ensaio Sobre A Loucura" de Mari Alves, estudande de Publicidade da PUC Campinas. Esse texto é seu debut como escritora, mas, já nesse seu primeiro momento, mostra muita maturidade e propriedade na maneira em que escreve. Espero que gostem, e como sempre, deem o seu valoroso feedback.

Abraços,



Vincius Fuscaldy



Ensaio Sobre A Loucura (Mari Alves)



Olhar fixo. Pode-se ver claramente as pequenas veias saltadas, os olhos vermelhos e as lágrimas que não cessam nunca. A criatura treme, deitada em posição fetal na cama desfeita há dias, Sim, criatura, afinal quando está naquele estado, não parece gente. Seu corpo se agita, ela se debate na cama, chuta o ar, rasga folhas de papel, faz o que pode para aliviar a tensão, mas nada parece aliviar a dor. Tenta não chorar, realmente tenta, mas a bola que se forma em sua garganta a impede de respirar, seus pulmões perdem a eficácia como numa crise de asma e na tentativa desesperada de buscar o ar abre a boca, nada. Os soluços aumentam, a bola em sua garganta se dilata cada vez mais, pode senti-la também no coração. Que dor, que dor, que mal-estar, que necessidade de fazer tudo aquilo parar, é tão impotente, é tão fraca! Porque não consegue esquecer tudo aquilo? Fecha os olhos e as lembranças não a abandonam. Lembranças da infância, lembranças de agora. “Porque ele me deixou? Por que ele se foi? Porque não volta? Porque mentiu? Eu o amo tanto...”. Aquelas frases não a deixam em paz, ficam se repetindo, e repetindo... Bota as mãos na cabeça, fecha os olhos violentamente. Sentada na cama ela balança o corpo para frente e para trás, respira fundo, quer esquecer. Da janela ela olha para o céu e sorri com as memórias de uma época feliz. “Eu era feliz, eu fui feliz naquele momento, eu fui!” O choro é tão forte, tão intenso, tão sofrido... Olha para baixo, não é tão alto, será que bastaria para fazer tudo acabar? Projeta o corpo para fora da janela, sente o vento secando suas lágrimas que descem pelo rosto. Não, não tem coragem, tentou por várias vezes, mas não consegue. Diante de sua fraqueza, é engolida pelo passado.
Foi sempre sozinha... Uma criança tão linda, tão saudável, porque haveriam de ter a coragem de largá-la? Entendia que seus pais precisavam trabalhar para sustentá-la e a seus irmãos, entendia que vieram de uma família simples e que provavelmente desejavam dar aos filhos todo o conforto que não puderam ter, entendia tudo isso, mas tudo que desejava era carinho. Sua verdadeira mãe era sua avó, aquela doce senhora que cuidava dela todos os dias, como a amava e era amada! Odiava os dias em que aquele rato, aquele demônio saía pelo portão e voltava bêbado, cambaleando e infelizmente se lembra até hoje das maldades que ele fazia para sua querida avó... “Eu te odeio, eu quero você morto! Se eu pudesse mataria você com minhas próprias mãos!” De fato, palavras e sentimentos pesados para uma garotinha de cinco anos.
Nunca suportou a dor de ser abandonada. Foi crescendo independente, confinada entre as paredes do seu quarto, sozinha durante os dias, isolada. Tinha muito tempo para si mesma, tinha muito tempo para desenvolver coisas boas e ruins. Agora era mais dura com seus sentimentos, negava a falta que sentia dos pais que continuavam em sua rotina atribulada, negava a falta que sentia de um colo, de um carinho, de um simples “Eu te amo”. Fazia anos que não dizia ou ouvia aquela frase tão bonita. Durante a adolescência, escondia-se atrás de um coração de pedra. “Não amo ninguém, não me envolvo com ninguém”, era incrível como se sentia bem e protegida com aquele escudo.
Ela volta a si. Seu coração está disparado, cada vez mais seu corpo se balança na cama. “Porque ele tinha que aparecer e destruir minha vida? Estava tudo tão bem, eu não precisava sofrer mais!” Foi o amor. Sim, ela amou, amou muito e continua amando. Aquele rapaz conquistou seu coração, a fez esquecer-se de quem ela havia se tornado, ela abandonou seu escudo, cedeu. Foi o ano mais feliz de sua vida, apesar de toda a distância. Ele era seu porto seguro, estava sempre ali para apoiá-la quando a angústia de não poder estar junto de seu amado a fazia chorar. “Eu te amo”, ele dizia através da tela do computador. Ela sorria, estava feliz, ele nunca a abandonaria! Faziam planos para se encontrarem e viverem juntos. Tinha vontade de ir ao encontro de seu amor, mas seus pais não sabiam de nada. “Você está louca? Não pode sair daqui e ir para outro estado atrás de alguém que você nem sabe quem é!”, eles diriam. Chorava, chorava todos os dias. Os dois consolavam-se como podiam. “Promete que nunca vai me abandonar?” “Prometo meu amor, nunca vou te abandonar!”. Os meses se passaram, chegou o novo ano e ela estava viciada. Jamais poderia viver sem ele, jamais! Fazia planos futuros, casamentos, filhos... Ria muito de si mesma. “Nunca pensei que fosse amar alguém, havia decidido que nunca me casaria ou teria filhos!”.
Mas daí veio a bomba. “Sinto, mas não podemos mais continuar. Meu amor por você é verdadeiro, porém muitas coisas aconteceram em minha vida e devo partir para longe, não voltarei nunca. Quero que saiba que te amo, que sempre amei, e você foi tudo que eu esperei ter durante a minha vida. Te liberto agora, quero que viva sua vida, que seja muito feliz com quem te merece, pois este não sou eu. Adeus.” Ela implorou para que ele ficasse, não teve acordo. Descobriu depois que uma outra moça levava o filho do seu amado no ventre e que este se sentia na obrigação de formar uma família em outro país. Chorou, chorou a noite toda, chorou o dia todo em que não se levantou para nada da cama. Estava em estado de choque. Os meses das férias escolares se arrastaram cheios de depressão, de tristeza. Os amigos diziam para esquecer, não os culpava, tinha certeza que não a entendiam, afinal os detalhes de seu delírio ela escondia dentro de si, sua alma era sua própria caixinha de lembranças. Bebia todas as noites para tentar dormir e quando conseguia, era um sono pesado, cheio de sonhos com seu amado. Ah, como doía! Não tinha vontade de sair de casa, dispensava ligações. Percebia que jamais deveria ter abandonado a segurança que a falsa personalidade adquirida antes daquele acontecimento lhe oferecia, mas não conseguia mais voltar, aprendera do modo mais difícil a verdade do amor.
Sabia que não estava bem, que nunca estivera bem. Sabia que toda aquela depressão, que aquelas vozes e pensamentos estavam ficando cada vez mais fortes. Tinha que ser falsa todos os dias. Mentir para a família, mentir para os amigos, mentir para si mesma. “Eu estou bem” dizia em frente ao espelho dando um sorriso forçado. “Se eles souberem, vão querer me levar até um psicólogo ou psiquiatra, eu não quero! Eu devo vencer isso sozinha, eu devo proteger todos a minha volta dessa decepção!”
Ela estava sempre ali, deitada em sua cama, olhar fixo no nada. Seu corpo tremia, não conseguia respirar. Chorava e seus soluços eram altos e constantes. Gritava. Derrubava os objetos do quarto, se levantava e girava olhando para o teto. Se jogava no chão, abraçava o próprio corpo, o rosto lavado em lágrimas. Debatia-se, balbuciava palavras desconexas para ninguém. Arranhava o peito, queria que aquela dor no coração parasse. Apertava a garganta, precisava de ajuda, bebia.
A dor nunca deixou a bela garota, talvez nunca deixe. Até hoje ela tem seus ataques de loucura, é quase como uma convulsão. Continua repetindo frases soltas.


“As paredes sabem de tudo”


fonte foto: Floquinhos de Algodão Blog