quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ana e o Mar



E aí pessoal! Mais uma quinta-feira, chuvosa, porém, dia de mais uma publicação minha aqui, no blog que vem se tornando uma febre, Os Letreiros!
Publico hoje um conto que escrevi há algum tempo, inspirado na música homônima de Fernando Anitelli de "O Teatro Mágico". Ha Ha, tinha que ter música no meio? Sim, não vivo sem ela. Espero que gostem, Obrigado!

Vinicius Fuscaldy


Ana e O Mar (baseado na música de Fernando Anitelli)


Todas as Manhãs, lá ia ela, a jovem Ana brincar junto ao mar. Saía de casa bem cedinho, logo de manhã, molhar os pés na primeira onda. Sentia a água morna tocar seus pés e um turbilhão de coisas lhe passavam pelo corpo. Ali junto a ele, o Mar, ela se sentia segura, sentia-se em casa. Encurvava seu corpo um pouco para trás, abria os braços devagar e se entregava ao vento, sentindo sua brisa leve lhe acariciar o rosto, como num afago ou um beijo de bom dia. O sol, começando a despontar no horizonte, parecia lhe avisar que à noite ele seria lua e lua cheia, para poder iluminar Ana, céu e Mar.

E outra manhã chegava, Ana cantarolava ao sair de casa, pegava uma maçã no cesto, maçã esta colhida na tarde anterior por sua mãe, Martha. A mãe da jovem Ana achava estranho a menina não ter amigos, já que na idade dela as meninas já estão até pensando em namorar. Mas Ana sempre dizia à mãe: _Eu aproveito os carinhos do mundo, dos quatro elementos, de tudo, deitada diante do Mar. Ele sim me entende e é meu amigo, me ensina da vida e me dá os melhores conselhos em suas ondas e seu balanço. A mãe por sua vez não se preocupava: _Isso é meninice de Ana, dizer tais coisas, amiga do Mar, onde já se viu!

Certa vez comentou com o Pai de Ana, Seu Mário, um senhor de idade avançada, meio chucro também. Mas, ele não deu muita atenção e ela por sua vez, deixou para lá também.

E os dias se passavam e Ana continuava sua rotina, afinal estava de férias na escola e então dispunha de todo o tempo do mundo. Levava seus livros favoritos e lia em voz alta diante dele, o Mar. E por mais incrível que pareça quando ela lia histórias alegres, de amor, ele, o Mar, ficava calmo, sereno. Quando as histórias eram tristes e trágicas, ele ficava revolto e turbulento. Sempre que ela estava para ir embora uma onda lhe entregava algo, eram sempre as conchas mais belas e nesta tarde a onda trouxe uma ostra com uma pérola enorme dentro. Pareciam ser presentes do Mar para a menina Ana.

Ela chegou em casa toda contente: _Mãe olha só o que ele me deu. Disse Ana entrando correndo dentro de casa.

_Ele quem menina? Disse a mãe enquanto picava cenouras para o jantar.

_Ele mãe, o Mar. Ana abre a ostra e mostra à mãe.

_Nossa senhora menina! Onde conseguiu isto? Disse tomando a ostra da mão de Ana.

_Já disse mãe, o Mar me deu.

_Deixe de tolices Ana, você já não é uma criancinha para estas fantasias bobas. Vou ficar com essa ostra e mostrar a seu pai. E você vá para o quarto e só saia quando o jantar estiver pronto!

_Mas mãe! Diz Ana chorosa.

_Já para o quarto.

Ana aquela noite chorou muito, nem jantar ela quis. Na manhã seguinte seguiu sua rotina, só que na cozinha seu pai a aguardava.

_Ana, precisamos conversar. Diz Mário com o semblante fechado.

_Filha, essas suas histórias de ser amiga do Mar, você não tem mais idade para isso filha, já é praticamente uma moça, logo vai se casar.

_Eu não vou me casar pai.

_Ana, você precisa crescer. E essa ostra que disse ser presente do Mar, com certeza achou na praia e...

_Ele me deu pai! Diz Ana irritada.

_Não fale nesse tom comigo menina. Está bem, você me forçou a fazer isso, está proibida de sair de casa até voltarem às aulas.

_Pai o senhor não pode! Ana começa a chorar.

_Posso sim, eu sou seu pai e enquanto estiver sob meu teto eu mando em você.

_Então eu vou embora!

_E vai morar com o Mar? Diz Mário rindo.

_Vou, lá tenho o céu azul como telhado e a areia como travesseiro, ele me dará seus peixes como jantar.

_Ana, já para o quarto e só saia de lá quando eu mandar.

Naquela semana, Ana não foi nenhum dia ver o Mar e não se falava neste assunto na casa. Ela se portou muito bem diante dos pais, mas, à noite em silêncio, se debulhava em lágrimas de saudade do seu amor. Na manhã seguinte a boa notícia, Ana poderia ir ver o Mar, mas acompanhada de Martha. Elas saíram logo após o café da manhã. O Mar estava calmo, tranqüilo, como se ainda não tivesse acordado. Quando Ana tocou os pés na água, parecia ter acordado o Mar, ela disse baixinho enquanto molhava os lábios com a água salgada: _Voltei meu amor, sentiu saudades? E o mar balançava, parecia estar em festa. Ana então, deita na areia diante dele e a onda vem lhe cobrir de espuma branca. E para o espanto de Martha o mar entrega na areia um baú, que quando Martha abre descobre estar cheio de jóias, pérolas e moedas de ouro.

_Credo em cruz! Diz Martha espantada ao tocar no tesouro.

_É um presente dele para a senhora e o papai, mamãe! Diz Ana sorrindo.

_Devo estar louca! Diz a mãe pondo a mão na cabeça.

_É um presente mamãe, um presente de noivado, ele quer casar comigo.

_Pare Ana, vou chamar seu pai para ele ver isso.Fique aqui e proteja o baú.

_Está bem mamãe.

Enquanto isso Ana sobe na pedra mais alta da praia: _Estou indo meu amor, ninguém mais nos separará. E se arremessa.

Os pais de Ana chegam na praia e a procuram, ficam desesperados. Levam o baú para casa e voltam para procurar a filha na praia. A mãe de Ana avista algo próximo aos destroços de um barco, é o corpo de Ana, roxo, afogado, não há mais nada a ser feito. A mãe de Ana antão toma uma resolução, vai de bote até o meio do mar e joga o corpo dela.

_Não era isso que queria Mar, minha filha com você para sempre? Leve-a, eu abençôo o amor e o casamento de vocês.

Muito tempo depois ainda se ouve falar da história do mar, que apaixonado por uma menina fazia de tudo pelo seu amor e até hoje ainda podemos ver nas noites de luar a figura de uma menina passeando pela praia de vestido de dormir branco brincando com as ondas do Mar. Ana e o Mar, Mar e Ana, histórias que nos contam na cama antes da gente dormir. Todo sopro que apaga uma chama, reacende o que for pra durar.



fonte foto: O Meu Sonho Lindo


P.S: Para quem quiser ouvir a música aí segue o link: O Teatro Mágico - Ana e O Mar


Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom, adorei

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