quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Vidas Desencontradas


Mais uma quinta-feira. Continuando a minha série de contos inéditos, publico mais um para a apreciação de vocês. Este conto de hoje, tem um jeitinho de novela das oito (rsrs), espero que gostem.





Obrigado,


Vinicius Fuscaldy



Vidas Desencontradas



De manhã logo cedinho, Zequinha descia a ladeira em que morava, pra ir a feira. Vendia legumes verduras e todo tipo de ervas e folhas frescas. Trabalhava para o seu Malaquias, um homem severo, porém de bom coração que se compadeceu da situação do menino, um órfão de pai, a mãe costureira, Maria do Céu, mãe solteira aos 16 anos de idade.
_Vamos logo Zequinha! Gritava Malaquias do pé do morro com a carreta ligada, cheia de leguminosas e frutas.
_Já to descendo seu Malaquias. A sua benção minha mãe! E descia o moleque todo desengonçado.
_Deus te abençoe meu filho, sussurrava Maria do Céu, enquanto via Zequinha entrar na carreta com Malaquias e ganhar a rua.
Maria era uma mulher batalhadora e apesar de sua pouca idade, adquiriu responsabilidade muito cedo. Criava Zeca sozinha, costurava, e ainda quando necessário fazia umas faxinas por fora para garantir que nada faltasse ao seu filho. Maria terminou uma costura e resolveu ir ao mercado comprar algo pro almoço. No caminho de volta ela fica distraída com uma revista de fofocas de novela que havia comprado na banquinha do lado de fora do mercado. Nem percebeu que o sinal estava vermelho para os pedestres. E um carro que vinha em sua direção pega nela em cheio, logo que põe o pé na faixa de pedestres. Voam as compras de Maria por todos os lados e ela bate no pára-brisa do carro, rola por cima do capô e caí em frente a ele.
O povo logo junta pra ver o quê aconteceu. O motorista desce do carro e fica estarrecido.
_Chamem uma ambulância pelo amor de Deus! Grita o homem desesperado.
Logo chega o resgate e Maria é posta dentro da UTI móvel. O homem segue junto de carro para o hospital. Do caminho o homem liga do celular.
_Alô, doutor Antunes? Problemas doutor. Atropelei uma moça. Não, já ta tudo bem acho, to levando ela pro hospital, mantenho o senhor informado.Ok!
Zequinha chega em casa, trazendo alguns legumes e frutas que sobraram da feira.
_Mãe! Cheguei!
_Mãe! Ué, cadê ela?
Ele começa a lavar os legumes e as frutas, quando o telefone toca.
_Alô! É da casa dela sim. O quê? Mas como ela ta moça? Fala pelo amor de Deus. Tá e onde fica isso? Zequinha larga o telefone de qualquer jeito e sai correndo porta afora. Desce a ladeira correndo e gritando:
_Seu Malaquias, acode aqui!
Malaquias sai pela porta de casa:
_O quê foi Zequinha?
_Uma desgraça seu Malaquias, minha mãe tá no hospital, ela foi atropelada, o senhor precisa me levar lá.
_É claro meu filho, vamos lá. Você sabe onde é o hospital?
_Sei sim seu Malaquias.
_Então vamos! E saem os dois no carro de feira.

O celular de Arnaldo, o motorista do doutor Antunes toca de novo:
_Alô, oi doutor. Não, ainda estou sem notícias da moça. O senhor vem pra cá? Mas, doutor não há necessidade! Tudo bem doutor, se o senhor insiste. Fico no aguardo.
_Nossa! O doutor Antunes vai me dar uma baita chamada! Droga, mas o quê que aquela doida tava pensando quando atravessou a rua daquele jeito? Arnaldo vai ao balcão de novo:
_Moça, como está a senhora atropelada? Pergunta ele cutucando a moça pelo braço.
_Senhor, o médico ainda não saiu, portanto não tenho notícias, sente e aguarde!
De repente entram Zequinha e Malaquias desembestados na recepção do hospital. Malaquias chega ao balcão:
_Por favor, queria saber notícias de Maria do Céu da Silva. Diz Malaquias esbaforido.
_É minha mãe moça! Zequinha com os olhos rasos d’água debruça no balcão.
_Ainda não tenho notícias. Diz a recepcionista. Mas, pergunte detalhes a esse moço. Ela aponta para Arnaldo. Ele a trouxe deve saber de algo.
Os dois voltam-se para Arnaldo, quando um senhor alto de cabelos negros, terno e gravata entra no hospital e vai em direção a Arnaldo.
_Como está a moça? Pergunta o doutor Antunes a Arnaldo.
_Ainda não sei doutor!
Antunes vai até o balcão de informações:
_Moça, quem é o responsável por esse hospital?
_É o doutor Silveira do Amaral.
_Diga a ele, por favor, que o doutor Alfredo Barbosa Antunes deseja ver uma paciente recém internada.
_A do atropelamento? Pergunta a atendente. A moça se chama Maria do Céu da Silva.
_Como? Antunes fica perplexo com o nome dito pela moça.
_Maria do Céu da Silva. Repete a moça.
Antunes fica paralisado.
_Algum problema doutor? Pergunta Arnaldo.
_Não tudo bem!
Zequinha então cutuca Arnaldo no braço.
_O quê foi moleque?
_Moço, foi o senhor que atropelou minha mãe?
Antunes se intromete:
_Foi ele sim rapazinho, mas, fique tranqüilo que já estou cuidando de tudo.
_Senhor, pode entrar. Diz a atendente a Antunes.
_Fique tranqüilo que vou ver sua mãe e vai ficar tudo bem.
_Eu quero ir também.
_Calma eu vou lá primeiro e já mando te chamarem, tá bom?
O menino faz que sim com a cabeça. Antunes então faz um carinho na cabeça de Zequinha e entra.
Ele chega no quarto em que está Maria. Respira fundo e entra. Ele olha fixamente para ela, mesmo machucada e tendo passado alguns anos ele a reconhece. Era Céu, seu grande amor de adolescência. Como o destino podia ter tramado tal encontro? Ela percebe o movimento e abre os olhos, fixa as vistas nele e abre a boca:
_Alfredo? É você mesmo? Eu devo ter chegado no céu.
_Calma Céu, não se canse muito. Sou eu sim. Foi meu motorista que te atropelou. Ele senta na beira da cama e começa a acariciar o rosto dela. As lágrimas escorrem dos olhos de ambos.
_Eu tinha tanta coisa pra te dizer, queria te encontrar em outra situação. Diz Maria chorando.
_Eu também Céu, você desapareceu da minha vida de repente, sumiu do mapa e nunca mais ouvi falar de você.
_Seus pais me convenceram que uma menina pobre como eu jamais teria futuro com um rapaz de sua estirpe, e além do mais na situação em que eu estava.
_Que situação?
_Seus pais me ofereceram dinheiro.
_Foi por isso que se foi, por dinheiro? Eu jamais...
_Calma Alfredo! Maria então sente uma pontada no peito.
_Vou chamar o médico.Alguém acuda, enfermeira!
_Alfredo, eu estava grávida e seus pais me deram dinheiro para abortar.
_O quê?
_Mas eu não abortei, meu filho, meu único filho, é seu filho Alfredo.
Ela sente falta de ar e pontadas maiores. Os médicos entram e pedem para Antunes sair.
Alguns minutos depois o médico traz a notícia. Maria do Céu da Silva, 24 anos, estava morta. Deixando seu filho, fruto de seu único amor, José Carlos da Silva, 8 anos, órfão.



fonte foto: Mulher Feliz

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